Opinião
Fora com os bandidos, tragam as milícias. E o haxixe!
Desempoeirei-me, irado com o mercado. Não há haxixe, do afegão que é bom, e tive de me desenrascar com uma erva que o meu vizinho planta no quintal. Não era boa e despeguei-me. Passei a ouvir coisas, dislates e putedo, como diria o Arnaldo Matos.
Botei escuta no circo volante, exigi, também sou português de bem, uma arma para combater bandidos e saí à rua. Não de pistola à cinta, que nem jagunço do Nordeste, mas armado em parvo que os tempos que passei no Nordeste foram boa cepa.
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E o que eu ouvi, na minha insânia. Indecentes, fazendo de nós liberais de pacotilha, os Açores só terão governador a 11 de Março, que é sempre uma data boa para a algazarra, mas ruim para esta república colonial. Percebemos a camuflagem, até lá residência artística e silêncio que é o “caos na imigração”.
Só aqui nas bandas onde moro, não houvera deles, muitas empresas tinham parado. Bem sei, trabalham por um punhado de moedas e não há sinecura que lhes chegue. A fiscalização não vai por lá, e sim, são explorados por quem lhes paga. Ainda num destes dias, quando fazia um biscate em dia feriado – a ganza é cara, reclamei ao tesoureiro os 180 euros do dia. O imigrante, em flagrante logro, trocou 120 euros por uma futura folga, sabe lá Deus quando.
Os “parasitas dos emigrantes”, esses “agentes da violência”, são assim. As aspas não refletem o meu pensamento, ademais sou filho de pais emigrantes, como esses dois milhões da diáspora que tanto celebramos. Cá, entre nós, temos 800.000 imigrantes que dão duro e são esmifrados pelos do costume, os que querem baixar os impostos, derramas e segurança social.
Como dizia um tipo de Loures, “a arma é para usar, quando é preciso, para impedir que o crime aconteça”. Mas neste, ficam todos impunes, estamos juntos, há anos, a pensar em moscambilhas para engazupar o soldo de quem trabalha.
Não bastava isto, vindo de Santarém, um grito histérico punha-me razão no tino. São “falsas razões climáticas”, mas pelo sim e pelo não, o melhor é formar “milícias armadas para enfrentar os roubos nos campos”. Salvem a maconha, mesmo que ruim, sempre se enrola.
Coisa de imigrante, só pode, estonteante e lancinante brado. Razão tem o outro, que lá no quartel das milícias, apontou que ele há quem “não goste dos que usam farda”.
Assunto resolvido, milícias e ordenanças e troca a cavalgar.
Ao tiro como quem canta, e cantando como quem dispara. “A cantiga é uma arma” e estas loas não são desligadas da realidade. Ou então estou mesmo parvo e alucinado, e, num gesto audaz, vou ali ver se interrompo a gravidez, não vá o parto trazer um peralvilha. Espera, o núncio não deixa. O Núncio Apostólico, claro, a diplomacia da Igreja que tem porta franqueada a todos. Idiotas, necessitados, remediados e, até, alucinados em caminhos de fio esticado nas alturas, funambulistas do vento.
As empresas sobem os lucros, os salários continuam no mínimo, artes performativas, pintadas a verde para processar, a fazer lembrar a facada do capitão sul-americano, só não vê quem não quer…
Como o clima e o aquecimento global, essa perfeita aldrabice. E a coisa vai, já há evangelistas e apóstolos a predicar o fim do Pacto Verde da União Europeia.
Outras canções, perdão, outras armas. O azeite, e se eu sou azeiteiro, subiu 69% em janeiro, mais 19% que na Europa. E pode subir mais, apesar do acrescento de 20% da Galega, Verdeal, Carrasquenha ou Cordovil. Mas que fazer, as milícias precisam do azeite para untar culatras. E nada de comprar o pote de cinco litros ao vizinho, pode estar adulterado e, haverá quem agremente avise para a adulteração. Com rótulo e maquia no latifundiário é que está bem.
Bem sei, as músicas escolhidas não são as óbvias, mas devemos anotar esse “Manifesto dos Contribuintes”, sim, também eles constituíram milícia. Esmifrados, lutam contra os impostos e reclamam corte na despesa do Estado.
O Terço vitupera as “crescentes reivindicações fiscais dos governos” e, mesmo crescendo, não estou vendo onde vão buscar fazenda para o rogo das promessas feitas por um estimável grupo de conspiradores, que andam aí nas estradas a tocar juntos.
Estamos perante poetas, cangaceiros e azeiteiros. Só nos falta a garrucha. E isso ninguém nos promete: uma chiola a cada português. Para defender o perímetro, claro.
Dá-se, retira-se. Um clássico. E eu sem ter quem me leve para longe desta canalha, tão desconvizinho destes ventos de alegoria e demagogia, para ser xalavar, ou zaragateiro de ocasião e assim, escrevendo, lavar a alma e esconjurar milicianos.
OPINIÃO | AMADEU ARAÚJO – JORNALISTA
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