Portugal
“Foi Deus que pôs a mão por cima” e ajudou a que “não fosse tudo” com as chamas
Em localidades de São Pedro do Sul “foi Deus que pôs a mão por cima” e ajudou a que “não fosse tudo” com as chamas e agora as pessoas” só pedem apoio para alimentar os animais.
“Foi Deus quem pôs a mão por cima e nos ajudou. Ainda agora investimos 40 mil euros neste trator e, como que por milagre, está intacto. Mas a carrinha de trabalho ardeu”, contou à agência Lusa Fernando Várzea.
Este agricultor e criador de gado, acompanhado pela esposa e filhos, anda agora, depois de passarem as chamas, a “ver o que ficou” na propriedade que possui na povoação de Nodar, na freguesia de São Martinho das Moitas, concelho São Pedro do Sul, separada pelo rio Paiva de Parada de Ester, concelho de Castro Daire, também no distrito de Viseu.
“Felizmente conseguiram-se salvar umas 10 cabeças de gado e umas 30 e poucas que tenho na serra, mas alguns animais – cabras e cães – fugiram e ainda não regressaram. Felizmente, estamos cá nós para continuar na luta”, sublinhou.
Na propriedade, “arderam dois bezerros, uns dois mil fardos de feno, que eram o alimento dos animais, um barracão e uma parte da carrinha, mas não dá para andar” e Fernando Várzea e o vizinho só se salvaram “graças ao tanque que estava cheio de água”.
“Até foi o meu vizinho que se lembrou disso. Estivemos muito tempo lá dentro do tanque, íamos metendo a cabeça de fora quando era possível e muito tempo estivemos com o nariz encostado à água, com a cabeça de fora, por causa do fumo”, relatou.
Fernando Várzea e a mulher, “agradecidos por estarem vivos”, admitem que “já só é preciso que chegue apoio para alimentar o gado, porque o feno ardeu todo e para o voltar a ter é preciso chuva e uns dois a três meses” para crescer.
“Tenho de comprar, não posso deixar morrer os animais à fome, mas é bom que se lembrem de nós e nos ajudem, porque desde terça-feira, quando o incêndio aqui andou, ainda não veio cá ninguém. Nem os bombeiros”, lamentou.
A mesma queixa foi apresentada por outra residente de Nodar, Donzília Santos, que disse à agência Lusa que foi “a primeira pessoa de fora da população a aparecer, desde o incêndio”.
“Éramos uns sete ou oito habitantes que tentámos proteger o que era nosso. Nem um bombeiro, ninguém da Câmara, ainda ninguém apareceu a perguntar se estamos vivos ou mortos. Aqui estamos, salvámos o que pudemos, o resto ardeu por onde quis”, realçou.
Donzília Santos acrescentou que lhe “ardeu um bezerro e fardos de feno, ou seja, o sustento” do filho foi “destruído em pouco mais de uma hora”, o tempo em que as chamas estiveram “muito ativas” na localidade.
“O meu filho tinha um palheiro no meio de um campo todo limpo, sem mato, e o incêndio queimou tudo, porque caiu uma ‘faiopa’ a arder e foi tudo. Foi o bezerro, o feno, milho desfolhado, rações, tudo. Assim como os cabos de comunicação. A casa não ardeu, mas estamos isolados, sem telefone nem televisão”, descreveu.
A 15 quilómetros de Nodar, fica Sul, sede de freguesia, onde as chamas também “varreram pinheiros e eucaliptos em muito pouco tempo”, disse à agência Lusa Vítor Gouveia, agricultor e madeireiro de profissão.
“Ardeu-me um estaleiro cheio de lenha que já estava vendida. Arderam-me 10 hectares de pinheiro e umas 10 mil tonelada de pinheiro e eucalipto. Era madeira que eu já tinha comprado e agora perdi uns bons milhares de euros porque desvalorizou”, salientou.
Vítor Gouveia contou ainda que entre Figueiredo de Alva e Sul “as chamas devoraram tudo em pouco mais de uma hora e, pelo meio, levaram um ‘maninho’ [pinhais públicos], que tinha mais de 150 hectares”.
“Já vi incêndios, mas como este nunca. No meio disto tudo dou graças porque estou cá para contar a história e poder recomeçar”, rematou Vítor Gouveia.
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