Coimbra

Filarmónicas estão sem receitas e pedem apoio ao Governo

Notícias de Coimbra | 5 anos atrás em 09-05-2020

A Confederação Musical Portuguesa (CMP) vai pedir apoio ao Governo para as bandas filarmónicas, face à perda de receitas originada pelo cancelamento das festas populares/religiosas devido à covid-19, iniciativas que lhes garantiam a maior fatia das suas receitas.

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À agência Lusa, o presidente da organização, Martim Caetano, garantiu que os prejuízos financeiros são de “elevado montante” porque, na maioria dos casos, “o financiamento anual de uma banda filarmónica provém das receitas dos seus serviços”.

“O prejuízo é enorme, até porque existe já uma decisão da Conferência Episcopal Portuguesa que adia um ano todos os eventos de cariz religioso, nomeadamente as festas e romarias, onde obrigatória e historicamente as bandas filarmónicas portuguesas têm uma presença contínua e indispensável”, sublinha.

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Neste quadro, o presidente da CMP teme o encerramento de algumas bandas, sobretudo aquelas que “têm pouco apoio financeiro das Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia”, que têm um “papel fundamental” no financiamento das filarmónicas.

“É muito importante que esses apoios se mantenham e sejam reforçados”, enfatiza Martim Caetano, considerando que se “não houver um reforço de apoios pode acontecer que algumas fechem portas, como já aconteceu no passado durante outras crises”.

A CMP está, neste momento, a elaborar um dossiê nacional para fundamentar a “necessidade de apoio financeiro imediato, dentro daquilo que são necessidades imediatas, para evitar uma paragem das bandas filarmónicas mais carenciadas financeiramente”.

“Esse dossiê nacional passa por recolher uma declaração das necessidades financeiras imediatas das bandas de música, que estão a ser contactadas individualmente até ao fim da próxima semana”, assegurou.

O documento vai ser depois apresentado a várias entidades públicas, entre elas o Governo, e a várias entidades mecenáticas, “no sentido de se conseguir um apoio financeiro extraordinário, exatamente para fazer face a estas carências financeiras extraordinárias, que decorrem da paragem da atividade”.

O presidente da Filarmónica União Taveirense, Filipe Teixeira, disse à agência Lusa, que, neste momento, a banda “já perdeu cerca de 10 mil euros” em serviços agendados para festas que não se vão realizar.

“O montante deverá chegar aos 15 mil euros, que é o valor que anualmente costumamos realizar em saídas para as festas religiosas”, referiu o dirigente da banda de Taveiro, no concelho de Coimbra, que tem um orçamento anual na ordem dos 50 mil euros.

Com 10 mil euros de apoio anual do município de Coimbra, a Filarmónica União Taveirense precisa de “30 a 35 mil euros de receitas em atividades que não se estão a fazer”, refere Filipe Teixeira.

“Apostamos mais nos concertos do que nas festas religiosas e estavam previstos várias apresentações na cidade de Coimbra, em parceria com a Câmara, que não se vão realizar ou então vão decorrer com um número muito baixo de espetadores, reduzindo o encaixa financeiro”, salientou.

“Felizmente, temos uma situação financeira estável, fruto da gestão dos últimos anos, o que nos permite manter a atividade”, acrescentou Filipe Teixeira, que se mostra igualmente preocupado com os impactos a nível artístico, pelo facto de os músicos “não poderem fazer música juntos”.

Na Sociedade Filarmónica Aurora Pedroguense, em Pedrógão Pequeno, no concelho da Sertã, distrito de Castelo Branco, o cancelamento das festas populares e religiosas vai representar uma quebra de receita na ordem dos 18 mil euros, disse à agência Lusa o maestro Pedro Cordeiro.

“São cerca de 30 festas que deixamos de fazer, que ajudavam em muito à sustentabilidade da banda”, refere o músico, salientando as despesas de manutenção com a sede, instrumentos e o pagamento ao maestro e aos professores da escola de música.

Com 42 músicos no ativo, a banda conta, no entanto, com um subsídio da Câmara Municipal da Sertã, que ajuda a manter a atividade.

Em Vila Nova de Anços, no concelho de Soure, distrito de Coimbra, na Sociedade Filarmónica Recreativa e Beneficente Vilanovense a perda de receitas também varia entre os 10 e os 15 mil euros.

“Vai ser um ano extremamente complicado. O que pensávamos ser um ano extraordinário, com cerca de 25 saídas, rapidamente se transformou num pesadelo”, relata à agência Lusa Marta Santos, presidente da direção da coletividade.

Segundo a dirigente, as saídas “representam uma boa parte das receitas” da filarmónica, que continua a ter despesas fixas com “água, eletricidade e ordenado do maestro”, e sem “receitas a entrar”.

“Para este ano, ainda temos dinheiro para suportar as despesas, para o ano vamos ver”, sublinhou.

A Sociedade Filarmónica Recreativa e Beneficente Vilanovense conta com 62 músicos e cinco escolas de música, frequentadas por 50 alunos, que lhe permite receber um subsídio da Câmara de Soure.

Além da crise financeira provocada pela pandemia da covid-19, o presidente da CMP, Martim Caetano, realça ainda os “prejuízos ao nível artístico”, com o cancelamento dos ensaios presenciais e das atuações das bandas e das escolas de música.

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