Familiares de vítimas mortais da derrocada da estrada municipal 255 em Borba (Évora) continuam a aguardar as indemnizações e, seis meses depois do acidente, gostariam que a investigação criminal já estivesse “mais avançada”.
“Não sabemos nada da investigação, mas com certeza que já devia estar mais avançada. São seis meses, não são seis dias, não é?”, argumentou à agência Lusa Cristina Salas, viúva de Gualdino Pita, um dos dois trabalhadores que morreu na pedreira que estava ativa.
Cristina Salas, que falava à Lusa a propósito dos seis meses do acidente – assinalam-se este domingo – que provocou, além da morte do seu marido, outras quatro vítimas mortais, realçou que os familiares precisam de “respostas”, porque estas sempre “confortam um bocadinho”.
O Estado “está agora a avançar” com as propostas de indemnização, através da Provedoria de Justiça, “mas não há um culpado e alguém tem de ser culpado”, reclamou, frisando que, “nesta altura, já devia haver mais qualquer coisa”.
António Bastos, advogado de Natália Xavier, viúva do outro operário que faleceu na pedreira ativa (João Xavier), também admitiu à Lusa que, “se calhar”, a investigação “devia ser mais célere”.
“Mas também é verdade que não é possível ser mais rápido, devido à complexidade dos crimes e atendendo ao número de entidades envolvidas e à gravidade dos factos”, ressalvou.
Fonte da Polícia Judiciária (PJ) lembrou à Lusa que o processo está em segredo de justiça, mas assinalou que “está em andamento” e que “a investigação continua a ser desenvolvida”, com o objetivo de que possa estar “terminada o quanto antes”.
“A investigação está em curso, no sentido de apurar eventuais responsabilidades criminais e de estar concluída o mais rápido possível, mas, como se trata de matérias complicadas e que podem envolver diversas entidades, requer especial cuidado”, limitou-se a acrescentar a fonte.
Já o Ministério Público de Évora disse à Lusa que a investigação “está a decorrer”, com a realização de diligências que visam a recolha de elementos de prova pessoal, documental e pericial.
Na tarde de 19 de novembro de 2018, um troço de cerca de 100 metros da estrada municipal (EM) 255, entre Borba e Vila Viçosa, no distrito de Évora, colapsou devido ao deslizamento de um grande volume de rochas, blocos de mármore e terra para o interior de duas pedreiras.
O acidente causou a morte de dois operários de uma empresa de extração de mármore na pedreira ativa e de outros três homens, ocupantes de duas viaturas que seguiam no troço da estrada que ruiu e que caíram para o plano de água da pedreira que não tinha atividade.
No início deste mês, a Provedoria de Justiça concluiu o envio de todas as propostas aos 19 pedidos de indemnização apresentados por familiares e herdeiros das cinco vítimas mortais, que têm um mês para decidirem se aceitam ou não, revelou na altura à Lusa fonte desse organismo.
Tanto Cristina Salas como o advogado de Natália Xavier disseram agora à Lusa que ainda estão a analisar as propostas da Provedoria de Justiça e não tomaram qualquer decisão.
“Da nossa parte são sete requerentes, a viúva, a mãe e os cinco filhos de João Xavier”, indicou o advogado António Bastos, revelando que a sua cliente chegou foi “a acordo, em abril, com a seguradora da empresa” onde o marido trabalhava “para o pagamento da pensão por morte”.
Cristina Salas, que tem um filho menor, divulgou também ter chegado a acordo com a seguradora: “Vão pagar, mensalmente, a mim e ao meu filho a pensão por morte”.
Na zona onde aconteceu o acidente, constatou a Lusa no local, a EM255 mantém-se cortada ao trânsito e sinalizada.
Do lado de Borba, os sinais indicam “Estrada sem saída, perigo de derrocada e acesso restrito a fábricas e pedreiras em funcionamento”.
A alternativa à estrada cortada, na zona dos mármores, é a variante entre Borba e Vila Viçosa, que está aberta ao trânsito há 15 anos e que liga à Autoestrada 6 (A6).
Luís Ganito, de 53 anos, residente em Borba e empresário de hotelaria, disse à Lusa que “faz falta arranjarem” a EM255 e sugeriu a construção de “uma ponte no local onde a estrada caiu” e uma forma de permitir que os visitantes possam “observar as pedreiras em condições de segurança”.
Mas, quando questionado sobre se a tragédia de há seis meses que deixou Borba em estado de choque continua a ser falada na terra, Luís Ganito já não se alonga: “Fala-se pouco, as pessoas tentam esquecer”.
Os familiares, argumentou Cristina Salas, é que estão “sempre nesta ansiedade, à espera de respostas, e, quanto mais se prolongar” o processo, “mais doloroso é, porque tem de haver culpados e ainda não há”.