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Exposição que reflete sobre o abandono do Ramal da Lousã é inaugurada em Coimbra
O Colégio das Artes da Universidade de Coimbra inaugura na sexta-feira a exposição “Land.Fill”, com uma escultura de Gabriela Albergaria criada a partir do lixo deixado no Ramal da Lousã, “uma linha sem comboio”.
“A negligência cíclica por parte das autoridades responsáveis por este projeto falido cai no tempo e deixa as suas cicatrizes no espaço e na vida dos habitantes. Deste percurso ferroviário, resta uma linha sem comboio, que se percorre a pé. Um percurso vazio onde ficam os despojos do tempo e se amontoam as memórias perdidas, que deixam o seu rasto pela linha”, salientam os alunos do mestrado de Estudos Curatoriais do Colégio das Artes, que convidaram a artista Gabriela Albergaria para criar “Land.Fill”.
Movidos pelo “sucessivo abandono da linha do metro do Ramal da Lousã”, os alunos optaram por escolher esta artista face à sua própria reflexão “acerca da relação entre as sociedades humanas e o meio envolvente”.
Para a criação da exposição, os alunos recolheram materiais, ao longo da linha que ligava Lousã a Coimbra, com essa recolha a ser documentada através de vídeos e fotografias que serão exibidas em conjunto com a escultura, explicou à agência Lusa a docente do mestrado Ana Rito.
Do material recolhido, encontram-se “desde objetos de uso diário, como luvas de borracha, ou baldes, até pedaços de madeira e restos de obras, com a linha a parecer que ficou quase como zona de entulho”, afirma, considerando que o processo foi “um pouco uma descoberta arqueológica do que se encontra no espaço”, numa mistura de dimensões entre “a presença humana e o que se vai acumulando pela natureza”.
A peça, que ocupa uma área de cinco por quatro metros na sala do Laboratório de Curadoria, foi sendo montada a partir do material recolhido, que foi encaixado “como se fosse um puzzle”, afirmou a artista Gabriela Albergaria, aclarando que a escultura tem pouca altura, quase parecendo “um tapete”.
Face à existência de uma antiga fábrica de cerâmica no percurso da linha, todos os materiais utilizados na escultura foram mergulhados em barbotina da região (uma espécie de barro líquido), informou.
O nome da exposição – “Land.Fill” – remete para os aterros sanitários, uma “solução perigosa que se encontrou para se esconder o lixo”, com a escultura também a procurar refletir sobre as questões ambientais e a reutilização dos materiais, quando a linha do ramal parece ser “um depósito de lixo”, sublinhou a artista.
Numa sala adjacente à da escultura, será exibido o filme realizado pelos alunos e um livro feito à mão com as fotografias e a explicação do processo por parte dos estudantes deste mestrado, acrescentou, realçando que todo o trabalho em torno da exposição foi um processo conjunto e colaborativo com os alunos do mestrado.
A exposição, com entrada gratuita, é inaugurada às 18:00, na sexta-feira, estando patente até 09 de maio. Pode ser visitada de segunda a sexta-feira, entre as 14:00 e as 18:00.
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