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Exposição lembra detenção há 50 anos de estudantes do ensino
A passagem dos 50 anos da detenção de 151 estudantes do ensino secundário, que tinham entre 13 e 18 anos, pelo regime de Marcello Caetano, vão ser lembrados com uma exposição na Torre do Tombo.
A 16 de dezembro de 1973 jovens estudantes dos liceus e escolas técnicas de Lisboa reuniram-se na Faculdade de Medicina (no Hospital de Santa Maria) para discutir assuntos relacionados com a vida associativa, como a reforma do ensino ou as limitações à sua vida, que a ditadura e as estruturas diretivas das escolas lhes impunham.
“A PSP cerca o local e os agentes barram as saídas. Os estudantes formam fileiras e, de braço dado, avançam para os polícias. Os agentes sacam das suas metralhadoras e apontam-nas aos estudantes. Os estudantes recuam e acabam escoltados, metidos em carrinhas e levados para as instalações do Governo Civil em Lisboa”, descreve um comunicado sobre a exposição que será inaugurada na próxima sexta-feira, dia 15.
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No encontro, convocado pelo Movimento Associativo dos Estudantes do Ensino Secundário de Lisboa, foram detidos 106 rapazes e 45 raparigas.
“A prisão tinha o objetivo de intimidar e humilhar”, contou à Lusa Rui Gomes, na ocasião com 15 anos, que passou a noite numa cela do Governo Civil de Lisboa com mais 50 rapazes do movimento.
Rui Gomes era na época dirigente do movimento que convocou a reunião e é atualmente um dos curadores da exposição e investigador do Centro de Estudos Sociais (CES).
Contudo, segundo Rui Gomes, a exposição é mais ampla do que o episódio das detenções, sendo direcionada para os adolescentes e pessoas que nasceram em democracia.
Estão já marcadas cerca de 60 visitas de estudo à exposição, o que representa cerca de 1600 alunos, adiantou.
Segundo Rui Gomes, os dois primeiros núcleos da exposição, “prender” e “vigiar e polir”, representam a atividade de repressão do Estado Novo sobre o movimento estudantil e contam com documentação relacionada com as detenções dos jovens, relatórios de vigilância da PSP e de informadores da PIDE (polícia política do regime), fotografias ampliadas em painéis e um gorro feito pela mãe de um dos estudantes.
“O gorro é um objeto icónico desse período. Aquilo que começou por ser uma tentativa de humilhação tornou-se numa distinção heroica” disse o investigador, explicando que o gorro servia não apenas para esconder os cortes de cabelo feitos pela polícia aos jovens, mas sobretudo como elemento de identificação da causa pela qual lutavam (contra a ditadura).
Adiantou que o terceiro e quarto núcleos “desobedecer” e “resistir”, se centram na imprensa estudantil e na construção da primeira cronologia centrada em factos relacionados com o movimento estudantil e núcleos de fotografias.
Os dois últimos núcleos representam a “contracultura” e mostram os livros que os estudantes liam, os filmes que viam, o teatro experimental da altura e contam ainda com um áudio da BBC que continha uma notícia sobre o ensino secundário de Lisboa, na altura censurado.
“Esta é uma exposição de gente comum que lutou contra a ditadura e que se dirige a gente comum que vive hoje na situação de democracia, mas numa democracia que para continuar a existir deve ser defendida todos os dias”,concluiu Rui Gomes.
A exposição conta com o apoio do Arquivo Nacional Torre do Tombo, Arquivo de História Social – Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, do Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra e do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa.
Além da exposição, que estará patente até 28 de fevereiro, o projeto envolve um livro “A Urgência da Palavra Impressa – A imprensa dos “intrépidos Adolescentes” contra a ditadura (1970-1974)”, da autoria de Rui Gomes e Jorge Ramos do Ó e um documentário.
Cerca de quatro meses após estas as detenções, a 25 de Abril de 1974, o regime cairia na sequência de um golpe militar protagonizado pelo Movimento das Forças Armadas.
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