Coimbra
Ex-Ministro defende investimento em vários setores para dar “mais vida” ao envelhecimento
O presidente do Conselho Económico e Social (CES), António Correia de Campos, defendeu hoje que é preciso investir em muitos setores para que o envelhecimento do país traga “mais vida” às pessoas.
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“A ideia de que precisamos de sobreviver é defensiva, nós temos que a substituir pela ideia de viver”, disse à agência Lusa o antigo ministro da saúde, que preconiza soluções para responder ao rápido envelhecimento da população.
Há quase 50 anos, em 1970, Portugal “era o país mais jovem da Europa e hoje somos o terceiro mais envelhecido”, frisou Correia de Campos, salientando que à nossa frente estão Alemanha e Itália.
Atualmente, 21% da população residente tem 65 ou mais anos, 14% tem menos de 15 anos e são cada vez menos as pessoas em idade ativa por idoso (6,6 em 1970 e 3,0 na atualidade).
Os números revelados pelo CES indicam ainda que, por cada 100 jovens há 153 idosos.
Para Correia de Campos, “o que impressiona foi a rapidez com que envelhecemos, porque foi uma rapidez paralela àquela em que ganhámos esperança de vida pelo decréscimo da mortalidade infantil e do aumento da esperança de vida”.
“Não há um bem que sempre dure e existe sempre uma outra face da moeda. E aquilo que nós ganhámos com o aumento da esperança de vida, estamos agora a acumular problemas pelo facto de estarmos com um envelhecimento muito rápido”, sublinhou.
O antigo governante reconhece que o envelhecimento da população traz problemas económicos, sociais, culturais e de saúde complexos, pelo que “temos de ter soluções complexas e de investir em muitos setores”.
“Temos de investir na prevenção, na organização social, na mudança do padrão cultural e, sobretudo, no conhecimento e na investigação”, frisou Correia de Campos, salientando que a investigação ainda é muito escassa na degenerescência celular.
Segundo o presidente do CES, “há mil vezes mais investigação sobre a atenuação dos efeitos das doenças crónicas do que sobre a medicina regenerativa, em que temos investido pouco”.
Correia de Campos defende, por exemplo, que é errado fixar administrativamente a idade da reforma, porque “pode ser simultaneamente tardia e injusta para muitos que começaram a trabalhar em profissões pesadas e incapacitantes, logo aos 14, 15 anos, e profundamente injusta para aqueles que aos 70 anos se sentem ainda cheios de força e capacidade e imensa experiência para continuar a partilhar”.
Salientando que a idade é um capital que deve ser aproveitado, apelou ainda ao aproveitamento “do conhecimento e da experiência” das pessoas mais idosas, “que têm a capacidade de fazer análises absolutamente lúcidas, com capacidade de ver ao longe”.
O antigo ministro da Saúde socialista lamentou ainda que, nos lares, se assista ao chamado “entretenimento sedentário”, ao invés de outras formas de participação dos mais idosos, que os mantenha ativos e com mobilidade.
Para discutir todas estas questões, o CES promove na quinta-feira a conferência “Desafios Demográficos: O envelhecimento”, na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (Polo III), entre as 14:00 e as 19:00.
Com coordenação científica da demógrafa e socióloga Maria João Valente Rosa, a conferência junta a ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, Mariana Vieira da Silva, o presidente do CES, Correia de Campos, os parceiros da concertação social e especialistas em filosofia, economia, sociologia e demografia.
O panorama demográfico, a relação entre gerações, o mercado de trabalho, implicações económicas e saúde e qualidade de vida são alguns dos temas que vão ser abordados na conferência, que conta também com a participação do diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e da presidente do Instituto Pedro Nunes.
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