Saúde
Estudo português mostra que comida de rua tem pouca fruta e hortícolas
Investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) analisaram 2.850 locais de venda de comida de rua em sete cidades da Ásia Central e Europa de Leste e concluíram ser pouca a oferta de fruta e hortícolas.
À agência Lusa, a investigadora Patrícia Padrão afirmou hoje que o projeto, intitulado “FEEDCities” e resultado de uma parceria com a Organização Mundial de Saúde (OMS), procurou “analisar o ambiente urbano de comida de rua” em cidades da Ásia Central e da Europa do Leste.
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Iniciado em 2016, o projeto analisou o ambiente urbano de Dushanbe (Tajiquistão), Bishkek (Quirguistão), Chisinau (Moldávia), Sarajevo e Banja Luka (Bósnia-Herzegovina), Almaty (Cazaquistão) e Ashgabat (Turquemenistão).
“A implementação do estudo iniciou-se em países onde se tem verificado um aumento acentuado de doenças crónicas não transmissíveis [como as doenças cardiovasculares e o cancro], e sobre os quais há poucos dados recolhidos de forma sistemática sobre fatores de risco relacionados com a alimentação”, esclareceu.
Nas sete cidades, os investigadores avaliaram os locais de vendas, os produtos prontos a consumir, caracterizaram os compradores, as suas compras e avaliaram a composição nutricional dos produtos vendidos.
No total, foram avaliados 2.850 locais de venda e os alimentos recolhidos corresponderam aos “mais disponíveis” em cada uma das cidades, incluindo alimentos caseiros e alimentos industrializados (‘snacks’, salgados, doces, bolachas e refrigerantes).
Segundo Patrícia Padrão, a “elevada disponibilidade de refrigerantes e baixa disponibilidade de fruta e produtos hortícolas prontos a consumir” foi uma característica comum aos locais de venda de todas as cidades.
No geral, os alimentos frequentemente disponíveis apresentavam um perfil nutricional “pouco saudável”, com elevados teores de energia, gordura e sódio. Já as compras apresentavam “elevada densidade energética”.
“Homens e compradores com excesso de peso ou obesidade tenderam a apresentar compras com perfil nutricional menos favorável, geralmente contendo valores superiores de gorduras saturadas, bem como de sódio”, observou Patrícia Padrão.
A par dos alimentos industrializados, alguns alimentos caseiros também apresentaram altos teores de ácidos gordos, o que poderá refletir “práticas culinárias menos saudáveis como a fritura e o uso frequente de gorduras de menor qualidade nutricional na confeção destes alimentos”.
Também nestes alimentos foram encontradas as principais fontes de sódio, especialmente nos pratos principais à base de carne, nos pastéis e ‘snacks’ salgados, o que “pode indicar uma utilização excessiva de sal ou ingredientes ricos em sódio”.
Face aos resultados, Patrícia Padrão afirmou que intervenções no âmbito da nutrição e da saúde pública “poderão ser úteis para a melhoria destes ambientes alimentares”.
“Estas medidas deverão ser adaptadas a cada contexto e poderão passar por limitar a disponibilidade de produtos alimentares ultra-processados ricos em gordura saturada, ácidos gordos, açúcar e sal”, referiu, acrescentando ser também necessária uma maior consciencialização dos vendedores e consumidores relativamente à composição nutricional da comida de rua.
À Lusa, Patrícia Padrão revelou que o estudo está a ser, neste momento, implementado em Tbilissi, na Geórgia, e que o intuito da equipa é alargá-lo a outras cidades para conseguir uma “visão mais completa dos ambientes de comida de rua nestas regiões”.
Os investigadores pretendem ainda realizar “estudos subsequentes nas cidades já avaliadas para aprofundar o conhecimento relativamente a outros fatores”, tais como a frequência e determinantes do consumo de comida de rua nestas populações, práticas culinárias e ingredientes usados.
Financiado pela OMS e pelo Ministério da Saúde da Federação Russa, o projeto “FEEDCities” contou com a colaboração de investigadores da Faculdade de Medicina, Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação e Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto.
O estudo contou ainda com a colaboração de inquiridores locais, agências da OMS e institutos de saúde pública de cada país.
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