Universidade

Estudantes pediram a palavra há 54 anos: “Mas ainda não a temos”

Notícias de Coimbra | 2 anos atrás em 17-04-2023

Os estudantes regressaram na tarde desta segunda-feira, 17 de abril,  ao edifício das Matemáticas da Universidade de Coimbra (UC) para relembrar o dia do “Peço a Palavra”.

Onde, há 54 anos,  Alberto Martins,  presidente da Direção Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), durante a inauguração do edifício, na presença das mais altas patentes do Estado Novo, declarou: “Em nome dos estudantes da Universidade de Coimbra, peço a palavra”.

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“Passaram 54 anos e podemos dizer que ainda não temos a palavra, temos a liberdade para falar, para intervir, mas não nos é conferido o devido peso para que a nossa palavra seja tida realmente em conta”, realçou, João Caseiro.

Hoje, a mais antiga associação de estudantes de Portugal entregou  ao Secretário de Estado do Ensino Superior o Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) rasurado, com os contributos e propostas da AAC para a revisão deste documento legal.

Segundo o presidente da instituição “o RJIES é um documento arcaico e obsoleto, cuja revisão peca por tardia e a AAC tem desenvolvido ao longo dos anos contributos diversos e propostas de revisão do documento”, acrescentando que “é de facto o documento que condiciona o poder da palavra dos estudantes”.

João Caseiro acredita que “com mais estudantes com assento neste tipo de órgãos, mais representativa será a linha de atuação das instituições de ensino superior. Só assim o poder da palavra dos estudantes será efetivo”.

No seu discurso, o reitor da UC recordou que não leu as propostas da AAC para a revisão do RJIES, mas sublinha que têm o apoio da Universidade de Coimbra. Elogiando, ainda, a criação do canal de denúncia na associação de estudantes.

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Amílcar Falcão frisou “que é um passo em frente em relação a outras instituições. Ou seja, a nossa associação de estudantes tem o seu próprio canal de denúncia e penso que isso é saudável: é mais um canal que existe e que passam os estudantes a poder utilizar”.

À entrada para a cerimónia secretário de Estado do Ensino Superior realçou a importância de as instituições de ensino superior terem canais de denúncia.

No final da sessão que assinalou os 54 anos da Crise Académica de 1969, promovida pela Associação Académica de Coimbra, o goverante Pedro Nuno Teixeira realçou, ao NDC, prometeu que irá ler com atenção o documento, saudando a AAC por ter feito este esforço.

Há 54 anos, em 1969, o presidente Américo Tomás deslocou-se à Universidade de Coimbra para inaugurar o novo edifício das Matemáticas e levou consigo os ministros das Obras Públicas e da Educação. Com a sala cheia de estudantes em ambiente de protesto, o então presidente da AAC, Alberto Martins, levantou-se e pediu a palavra.

Ao NDC, diz que este momento mudou a sua vida. Foi duro, mas também um momento de grande libertação, recordando que “não era uma tarefa fácil, mas era uma honra pedir a palavra” e até porque não estava sozinho, estava com a “sua gente”, recorda.

Seguiram-se seis meses de manifestações, detenções, boicotes aos exames, greves, numa luta em que os estudantes souberam ser fiéis a si próprios.

Alberto Martins considera que a Crise Académica de 1969 foi “um dos afluentes para o 25 de Abril de 1974”.

Veja  a fotogaleria da cerimónia que assinalou os 54 anos “Peço a Palavra”. (Há mais imagens no Facebook)

Veja os diretos NDC:

 

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