Opinião
Estou-te de faca afiada!
Há cerejeiras em flor, o Douro coberto de manto branco, como a neve que ainda nem despegou na Estrela.
Invernos quentes, videiras a abrolhar, podas ainda por acabar. No plateau a falange contempla socalcos e cumes e afia gumes.
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Estou-te de faca afiada, é o que mais ouvimos por aí. Cheira a dinheiro, a poder e a revide.
Desde o cavaquismo, que me lembre, que despedido governo velho e chegado chefe novo, trocamos cadeiras, do diretor-geral ao continuo, do chefe do emprego ao capataz dos bombeiros.
Esta admirável máquina burocrática vai encher-se tachos e nem as feiras do queijo servem para dar uso ao faqueiro. É a minha vez de ir ao pote. Sabes quem vai para a ARS? Não, essas foram extintas, para a ULS vai fulano, diz sicrano, já a avisar que a reorganização vai mudar. Alto e para o baile, vai de fagodes, malhos e rebimba ao tacho. É o reviralho, a doce cambadela, é preciso mudar as moscas, o resto lá fica, e perante inquietações, de quem escrutina por dever de ofício, o sábio e procurado, “não faço ideia”.
Respeite-se o povo e de caminho há que arear os tachos, como o outro, que passou oito anos a viver num cinco estrelas. Tal como a nossa vida.
Maestro, julgava que o título era daquele da bola que faz vinho a 666 paus a garrafa, mas afinal é do rapaz da má-língua e boas famílias. Alegado e putativo suspeito, que o chiste é só para os amigos do sindicato.
Há regressos que valem como novidades, quase estreias e, contudo, significam apenas fim da ausência pública. Estamos a engrandecer a Pátria e coisas sérias não importam. É dia de bodo, como em Pombal, nestes dias inquietantes e palpitantes, em que procuramos lugar no Estado. Lugar, sinecura e não te esqueças do primo, que acabou agora o curso.
É a nossa boa vida para o progresso, caminho para o Fundo Europeu, tempo dos artistas, multifacetados de preferência, e tragam três centenas da Judite, vamos vasculhar país. Apreender dinheiro desviado, chancela de arguido, ou réu, nem ponta, que este é cá dos nossos.
Não sei, diz a senhora que parece não ter autoridade para afirmar que não sabe. É o que dizem os do sindicato. E as saudades que eu tenho do sindicato, ali à Infatara, um parafuso e uma mealhada de salchichas e pimentos.
Haja vinho, que voltaremos a ser de segunda. Os de primeira a 20%, nós, os verdes, a 52%. É uma feira, comprem, comprem. Leva lá metade do recibo e mais um pouco, que eu fico arrestado.
Não há noção do ridículo, vai-se noite dentro indigitar, que amanhã há encontro político e o melhor é já avisares que tens o chapéu no carro.
O país perdeu comedimento e noção, o primeiro é do povo, mas amanhã vai a Bruxelas ver colegas e, pelo sim e pelo não, que vá indigitado. Ele indigitado, nós indignados. Os rituais da democracia não são cousa de sacripanta.
Fado português, convite único e tomai lá três milhões de euros para investigar a regeneração do cérebro. A degenerescência anda solta e nós, sábios, a promover a arte do convívio. Traz um copo de três e uma sanes de molho de fígado. E um Kompensan, que isto é embarque duro.
Um funaná e toma lá mais 1,7 milhões para comprares ferramentas para monitorizar os impactos do desenvolvimento sustentável no turismo. A imaginação não tem limites, já incentivos à procriação, ao bacanal, à reprodução, ao crescimento dos bens tangíveis e da filharada, não é preciso. Prostibulo não abre, haja prontidão e sortes.
Pum, solta petardo, querem-me sequestrado e eu, a pensar que vivia em Monte Formoso.
Conto contigo, anda mais eu ao queijo que vai sendo tempo de afiar a faca, que ele, ele é muito lacticínio, muito leite a escorrer da administração, nem púbica, nem pública. Baiucas e curros.
Conto contigo. Lá irei. Traz faca e pijama. E prometes um lugar?
Prometo porra.
OPINIÃO | AMADEU ARAÚJO – JORNALISTA
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