Coimbra

Estado de emergência aumentou preocupação de jornalistas com rigor da informação e baixou salários

Notícias de Coimbra | 4 anos atrás em 30-06-2020

O estado de emergência, no decurso da pandemia de covid-19, baixou salários de jornalistas e aumentou as suas preocupações com o rigor da informação e mudou as rotinas de trabalho, revelam as conclusões preliminares de um inquérito das universidades de Coimbra, Lisboa e Minho.

Jornalistas em trabalho em Coimbra. Imagem de arquivo.

Dos cerca de 900 jornalistas que responderam ao inquérito, de 6.788 inquiridos para o estudo “Os efeitos da declaração do estado de emergência no jornalismo”, mais de metade (56,7%) considerou haver questões importantes levantadas pela declaração do estado de emergência quanto à cobertura do jornalismo e quanto a normas do código deontológico.

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Esta percentagem aumenta para 65% no caso de jornalistas com menos tempo de profissão e estagiários, e para 80% dos inquiridos o rigor da informação ética e deontológica é o “mais sensível” nessas questões.

O estudo revela ainda que 23% dos inquiridos viram o salário bruto alterado durante o estado de emergência, aumentando a percentagem para 33% se se juntar o agregado familiar.

Mais de 15% dos inquiridos disseram que a situação laboral se alterou, durante o estado de emergência, e 11,1% sofreram o ‘lay-off’, mas o coordenador do estudo promovido pelas universidades de Coimbra, de Lisboa e do Minho, Carlos Camponez, numa conferência ‘online’ organizada hoje pela agência Lusa, sobre o futuro do jornalismo em teletrabalho, salientou que 74% recebiam menos de mil euros e apenas 10% mais de 1.500 euros.

Sobre a profissão, o estudo revela que as expectativas baixaram porque aumentou a perceção sobre a probabilidade de perder o emprego a curto prazo, baixou a perceção sobre a probabilidade de encontrar um novo emprego no jornalismo, se estivesse desempregado, e aumentou o número de jornalistas que considera mais provável deixar de exercer a profissão.

O estudo revela que, durante o estado de emergência, aumentou para 59% a percentagem de jornalistas a trabalhar no domicilio, e para 68,9% quando se junta os que já antes trabalhavam fora das redações.

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Quanto aos temas cobertos pelos jornalistas, 35,3% disseram que a pandemia ocupou 75% do seu trabalho, e mais de 91% dos inquiridos disse ter realizado trabalhos sobre a covid-19, admitindo ainda sair menos em reportagem (aumentou de 10% para 30%).

A diretora de informação da agência Lusa, Luísa Meireles, defendeu a importância do trabalho dos jornalistas num espaço coletivo como a redação e a necessidade de existir essa ligação, mas admitiu não ver inconveniente em alternar o trabalho no domicílio com a redação.

“O teletrabalho por obrigação é uma questão. Outra é o teletrabalho que pode ser uma solução de recurso, e isso é sempre possível. Acho que poderá haver no futuro (…) por turnos”, afirmou naquele encontro ‘online’, organizado em parceria com a CCPJ – Comissão da Carteira Profissional de Jornalista e o Sindicato dos Jornalistas.

O provedor do telespetador, Jorge Wemans, defendeu que o jornalismo que foi para teletrabalho já estava em crise e alertou acerca da necessidade de se refletir sobre a situação da profissão antes do confinamento.

“O público não se apercebeu logo que o jornalismo estava confinado”, afirmou Jorge Wemans, defendendo que os jornalistas, pelo menos inicialmente, não mostraram o confinamento e “esconderam” haver menos jornalismo na rua e menos contactos com as fontes.

Jorge Wemans criticou ainda o que se chamou de “confinamento da agenda” dos jornalistas, que dedicaram a maioria do tempo a matérias relacionadas com a pandemia, prejudicando a cobertura de outros assuntos do interesse do público.

O jornalista do Público Alexandre Barata defendeu que os jornalistas em Portugal não têm “ajudado” a criar uma cultura de relacionamento com as fontes.

“Escrevo sobre política nos Estados Unidos. É muito raro não ter logo uma resposta, e não existe essa cultura em Portugal, o que prejudica o jornalismo, especialmente o dos [jornalistas] mais novos”, defendeu, considerando haver responsabilidade dos jornalistas nacionais porque não explicam aos leitores a razão de não terem obtido certa informação, “matando o assunto”, informando apenas que “contactado não quis comentar”, e defendendo a necessidade de uma cultura de entendimento.

“Não é específico da pandemia, mas agrava-se nesta situação, ou é mais evidente. Mas não podemos dizer que tem corrido tudo muito bem. E não podemos atribuir tudo à pandemia”, salientou, defendendo que o teletrabalho “é quase a negação do jornalismo” e que estar na redação é “fundamental”, mas também é preciso tempo e disponibilidade.

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