Educação
Ensino profissional ainda se associa a baixo desempenho e contexto familiar
A opção dos alunos pelo ensino e formação profissional ainda está associada a um baixo desempenho académico e a contextos familiares e socioeconómicos mais desfavorecidos, em que dominam níveis de escolaridade inferiores.
As conclusões constam do estudo “Como valorizar o Ensino Secundário Profissional? Dilemas, Desafios e Oportunidades”, divulgado hoje pela Edulog – iniciativa da Fundação Belmiro de Azevedo – em colaboração com a Universidade de Aveiro.
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Com 45% dos estudantes a frequentarem cursos profissionais, Portugal está entre os países europeus onde menos jovens optam por aquela via de ensino. A escolha continua ainda associada a desempenhos académicos mais baixos e contextos desfavorecidos.
“O contexto socioeconómico é visto como determinante para a escolha do ensino secundário profissional, designadamente porque, para as famílias mais carenciadas, esta tipologia de ensino oferece perspetivas de uma integração mais rápida no mercado de trabalho após a conclusão do nível de ensino obrigatório”, refere o relatório.
Em comparação com os colegas do chamado ensino regular, há também diferenças em termos do histórico profissional e académico das famílias. Enquanto um terço dos alunos de cursos científico-humanísticos provêm de famílias em que o ensino superior é dominante, apenas 9% dos jovens a frequentar cursos profissionais têm contextos familiares semelhantes.
Nas famílias da maioria desses estudantes, dominam níveis de ensino inferiores e as profissões mais frequentes incluem operários e trabalhadores não qualificados.
O contexto familiar influencia igualmente o caminho dos estudantes quando terminam o ensino obrigatório. Aqueles que prosseguem os estudos têm, habitualmente, tutores mais escolarizados, uma escolha que está também ligada a médias mais altas e faixas etárias mais jovens.
Por outro lado, no que diz respeito ao perfil dos alunos, apesar do historial de baixo desempenho, os professores ouvidos pelos investigadores referem uma grande evolução de competências ao longo dos três anos do secundário e vantagens relativamente ao ensino regular.
“Os estudantes são descritos como mais resilientes, com maior capacidade de resolução de problemas e maior capacidade de trabalho em equipa do que os colegas do ensino regular”, lê-se no relatório.
Ainda assim, os investigadores reconhecem que “a imagem geral do ensino secundário profissional é tendencialmente negativa” e sublinham a necessidade de aumentar o reconhecimento do seu valor dentro das escolas, um trabalho que deve contar, desde logo, com os professores.
À agência Lusa, David Justino, do Conselho Consultivo da Edulog, explicou que esse preconceito decorre, por um lado, da reprodução da imagem criada durante o Estado Novo em torno do ensino técnico-profissional, para onde eram empurrados os alunos com maiores dificuldades, mas também da ideia de que o ensino profissional é uma via mais acessível e menos exigente para a conclusão da escolaridade obrigatória.
Por outro lado, acrescenta que há casos “em que a orientação vocacional tende a encaminhar os alunos para cursos menos apelativos de forma a garantir o seu funcionamento”.
Para o investigador e antigo ministro da Educação, a valorização do ensino profissional deve, no entanto, passar sobretudo por um ‘upgrade’ curricular, maior facilidade de contratação de técnicos especializados em cooperação com as empresas e pela promoção de uma rede de escolas profissionais de referência, selecionadas em função da qualidade da oferta e empregabilidade.
“Não creio que o problema resida no ‘encaminhamento’ dos alunos, mas antes na qualificação da oferta de ensino profissional que permita superar o seu atual estatuto”, disse Justino em resposta escrita à Lusa.
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