Educação
Ensino à distância criou desigualdades, mas pais reconhecem que foi a solução possível
Os representantes dos pais consideram que o modelo de ensino à distância implementado para substituir as aulas presenciais durante a pandemia da covid-19 criou e acentuou desigualdades entre alunos, mas reconhecem que foi a solução possível.
Alunos e professores foram obrigados a trocar as salas de aula pelas suas casas em 16 de março, quando o Governo decidiu suspender todas as atividades letivas presenciais, como forma de conter a propagação do novo coronavírus, e o 3.º período decorreu sempre à distância.
“Foi uma situação de remedeio e, na nossa opinião, entre não fazer nada e fazer aquilo que foi feito, foi preferível assim”, disse à Lusa o presidente da Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE).
Ao longo deste período, os encarregados de educação alertaram para diversos constrangimentos criados pelo modelo de ensino à distância, desde as dificuldades de acesso às atividades ‘online’, por falta de equipamentos, às disparidades no trabalho realizado com os alunos.
Apesar dos problemas, o presidente de uma outra organização representativa dos pais, a Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), Jorge Ascenção não acredita que este tenha sido um período perdido e elogia o “esforço digno e hercúleo” de todos aqueles que trabalharam para minimizar as desigualdades.
Entre esses esforços, escolas, autarquias e outras instituições juntaram-se para assegurar o acesso ao ensino dos alunos mais desfavorecidos ao ensino, através da distribuição de materiais de trabalho em suporte de papel ou do empréstimo de computadores, e o Ministério da Educação encontrou na RTP Memória uma forma de fazer chegar as aulas das várias disciplinas a casa de todos através da televisão.
Recordando os últimos meses, Rui Martins, da CNIPE, considera que a solução encontrada no ensino à distância e na nova telescola, o #EstudoEmCasa da RTP Memória, não resolveram todas dificuldades, mas reconhece que tudo foi feito para colmatar as desigualdades.
Jorge Ascenção acredita que com mais planeamento poderiam ter sido implementadas medidas que permitissem um melhor funcionamento deste 3.º período, mas não deixa críticas à resposta do Ministério da Educação a uma situação emergente.
“Eu gosto de criticar dizendo que se estivesse lá poderia ter feito melhor, e não tenho a certeza se era possível fazer melhor”, sublinhou.
Agora que o ano letivo está prestes a terminar, os encarregados de educação consideram que é urgente começar a preparar o eventual regresso às escolas em setembro e sublinham a importância de ouvir os vários representantes da comunidade educativa, incluindo pais, para discutir os diferentes cenários.
“Penso que é necessário planear-se, falar-se e refletir-se sobre aquilo que pode vir a ser o futuro da escola dos nossos filhos. Isto foi uma lição para todos, há formas de podermos ajudar mais ainda, portanto, é isso que deve ser discutido, porque uma cabeça só não pensa”, considera o presidente da CNIPE.
Aquilo que parece ser uma certeza entre todos é a necessidade de recuperar aprendizagens e conteúdos que ficaram por trabalhar este ano.
Segundo os resultados de um inquérito feito pela Federação Nacional de Professores (Fenprof) em maio, a maioria dos docentes (92,9%) considera que os défices que resultarem deste ano letivo devem ser superados no próximo ano, preferencialmente através da integração das matérias que ficaram no próximo ano letivo.
Neste sentido, foi com estranheza e apreensão que os representantes dos pais receberam o despacho publicado na quarta-feira, que indica que os manuais escolares do presente ano letivo têm de começar a ser devolvidos já a partir do dia 26, o último dia de aulas.
“Não entendemos como é que é possível as famílias terem de entregar agora os manuais, quando, com grande probabilidade, vão precisar deles no início do primeiro período, para não dizer durante todo o primeiro período do ano que vem”, questionou o presidente da Confap.
Também o presidente da CNIPE, Rui Martins, classificou negativamente a medida sublinhando que, em muitos casos, um terço do ano letivo ficou por lecionar e terá de ser recuperado a partir de setembro, mas os alunos precisam dos manuais para que esse trabalho seja feito.
O 3.º período termina na sexta-feira da mesma forma como arrancou: à distância. Para já, ainda não se sabe se os alunos vão poder regressar às escolas a partir de setembro, e as famílias e escolas continuam a aguardar que o Ministério da Educação dê a conhecer o despacho normativo de Organização do Ano Letivo.
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