Coimbra
Empresas de turismo no Centro tentam adaptar-se a uma nova realidade
“Só com vacina ou antivirais será possível recuperar a confiança total dos visitantes durante e após a pandemia de covid-19. Até lá, vamos ter de nos adaptar”, refere Pedro Machado, na linha de outras opiniões ouvidas pela agência Lusa numa ronda por agentes turísticos da região Centro, que engloba cem municípios.
Hotéis, restaurantes, termas, empresas de animação turística e aventura tentam aproveitar o período de encerramento forçado para repensar as respetivas estratégias, elaborar novos procedimentos, fazer formação à distância. Mas, para muitos, o mais difícil será sobreviver à crise, uma vez que ficaram sem receitas e tiveram que cancelar as atividades programadas.
“Estamos a preparar-nos para uma nova normalidade, com novos procedimentos, criando produtos novos, mais orientados para o mercado nacional e respeitando todas as normas de segurança”, conta João Diniz, presidente do Conselho de Administração e diretor do histórico Grande Hotel do Luso.
O hotel de 117 quartos, projetado pelo arquiteto Cassiano Branco, colocou em ‘lay-off’ a maior parte dos seus 42 funcionários, decisão semelhante à que foi tomada pela esmagadora maioria dos hotéis da região.
Neste período forçado de portas fechadas, João Diniz e a sua equipa de colaboradores mais próximos têm trabalhado em novas regras de funcionamento para a reabertura. Horários de refeições mais alargados, redução do número máximo de clientes nas salas de refeição, desinfeção permanente das instalações, regras ainda mais apertadas no spa e nas termas do Luso, criação de produtos de animação turística ligados à natureza, que possam ser desfrutados por casais, famílias, ao ar livre.
“Há duas palavras que marcam estes tempos: adaptação e confiança. Precisamos de nos adaptar e de recuperar a confiança de quem nos visita, propondo novos produtos, novos procedimentos, reforçando a sensação de segurança”, avança João Diniz, que diariamente assiste a ‘webinars’ (seminários online), muitos deles promovidos pela Turismo do Centro, à procura de novas ideias e de um conhecimento mais profundo do que será o mercado quando a evolução da pandemia abrandar.
O coordenador do consórcio das Termas do Centro, Adriano Barreto Ramos, sublinha também a necessidade de estabelecer novos procedimentos, que reforcem a sensação de segurança dos frequentadores das estâncias termais.
“Antes de mais, convém lembrar que está demonstrado por vários estudos científicos que a frequência de termas, em condições de segurança, reforça o aparelho imunitário das pessoas, o que é muito importante nesta época de infeções”, refere Barreto Ramos.
As Termas do Centro representam 60% do mercado nacional de estâncias termais, integrando unidades de toda a região: Alcafache, Almeida-Fonte Santa, Águas-Penamacor, Bicanho, Caldas da Felgueira, Caldas da Rainha, Carvalhal, Curia, Cró, Ladeira de Envendos, Longroiva, Luso, Manteigas, Monfortinho, Piedade, Sangemil, São Pedro do Sul, Unhais da Serra, Vale da Mó e do Vimeiro.
Atualmente, estão de portas fechadas, mas Barreto Ramos garante que, quando tiverem autorização, vão reabrir com controlo ainda mais apertado de procedimentos e higiene, nomeadamente o uso obrigatório de máscaras por todo o pessoal médico e auxiliar.
“Estamos a adaptar-nos, para sobreviver, como acontece em todo o setor do turismo”, refere, avançando que as termas irão reabrir gradualmente, sendo as unidades de fisioterapia as primeiras a regressar aos tratamentos.
A adaptação também é a palavra de ordem nos restaurantes, que têm optado por soluções de “take-away” para sobreviver. “Mas ninguém aguenta se não pudermos abrir as portas, receber clientes, ganhar dinheiro para pagar salários e pagar empréstimos”, refere o dono de um restaurante na Figueira da Foz.
O empresário está a preparar-se para reduzir o número de mesas, alterar procedimento no atendimento e na cozinha, mas não esconde a preocupação com a situação, queixando-se que as medidas previstas pelo Governo são insuficientes. “A receita deles é que eu peça mais dinheiro à banca? Mesmo com condições favoráveis representa mais despesa, mais dificuldades”, resume.
Bastante crítica é a situação de dezenas de empresas de aventura e animação turística, a maior parte situadas no interior do país, em territórios de baixa densidade, quase sempre de natureza familiar ou microempresas, que viram as receitas desaparecer com a pandemia.
“Já tínhamos feito investimentos, programado o ano, e tudo parou. As câmaras desviaram o dinheiro, e muito bem, para apoiar as populações, os eventos foram adiados ou cancelados na totalidade”, relata o dono da Trilhos do Zêzere.
Esta microempresa explora um pequeno restaurante na praia fluvial do Mosteiro, em Pedrógão Grande, para além de organizar trilhos de aventura, caminhadas, passeios de canoa e de organizar o popular campeonato nacional de carrinhos de rolamentos.
“Está tudo parado”, lamenta Luís Dias, que vê o futuro com muita preocupação. “Dizem que o Centro vai beneficiar com as regras de distanciamento social, por ser território de baixa densidade. Mas se as pessoas não têm dinheiro para comer, seguramente não terão dinheiro para brincadeiras”, resume.
Pedro Machado, presidente da Turismo do Centro, tem defendido que as microempresas deveriam receber apoios a fundo perdido, dizendo que é preciso “salvar as empresas, para salvar empregos”.
A Turismo do Centro já lançou uma campanha de promoção da região e até ao fim de abril conta lançar, no mercado nacional, uma campanha mais alargada, intitulada “A vida é agora”, em diversos formatos.
Tem promovido ainda seminários ‘online’ diários, abertos a todos, discutindo novos procedimentos, regras, refletindo como vai ser o mercado turístico quando for levantado o confinamento. Machado quer envolver empresários, trabalhadores do setor, mas sobretudo autarcas.
“Lanço um desafio aos autarcas, que venham discutir o futuro das ‘smart cities’. Cidades onde seja possível gerir fluxos de visitantes, horários, circular em segurança, respeitando as normas de isolamento social, para bem de todos”, conclui.
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