Coimbra
Empresa de resíduos diz que protesto de hoje na Figueira da Foz é causado por desinformação
A empresa que quer instalar um novo Centro Integrado de Valorização de Resíduos na Figueira da Foz afirma que o protesto de hoje da população local resulta de desinformação e que a unidade vai despoluir e não poluir.
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A projetada instalação de um Centro Integrado de Valorização de Resíduos (CIVR) a cerca de 15 quilómetros a sul da cidade da Figueira da Foz, no distrito de Coimbra, tem a oposição da população de mais de uma dezena de aldeias e lugares das freguesias da Marinha das Ondas e de Carriço (Pombal, Leiria), que agendou para as 15:00 de hoje uma manifestação no local.
“Tentámos, com a Junta [da Marinha das Ondas] informar e esclarecer as pessoas. A nossa política tem sido de total transparência, de total informação e conhecimento, para que as pessoas percebam que o que está a motivar estes protestos é a desinformação, o mote do protesto é contra a poluição, o que é um contrassenso. Nós não queremos poluir, queremos despoluir”, disse à agência Lusa Nuno Gabriel, administrador da BioEnergias.
O responsável da empresa do grupo Nov (ex-grupo Lena), detentora do projeto da nova unidade industrial alega que os autarcas da freguesia “ouviram [as explicações da empresa] mas não quiseram perceber”.
“Preferem a política do envenenamento do que a informação. As entrevistas que o presidente da Junta tem dado mostram que não tem querido informar as pessoas e os ânimos têm sido acicatados e têm-se empolgado um não-assunto”, declarou.
O administrador da BioEnergias frisou que o novo CIVR – um investimento de cerca de quatro milhões de euros – “é nada mais, nada menos, do que uma simples unidade de compostagem e nada mais do que isso”, embora a nível industrial.
A unidade de compostagem, explicou, irá receber resíduos orgânicos “não perigosos” como lamas provenientes de estações de tratamento de águas residuais [ETAR] ou subprodutos de origem animal, nomeadamente de pecuárias, tratá-los e valorizá-los, originando um produto comercial sob a forma de fertilizante orgânico.
“Nós não podemos receber resíduos perigosos, apenas orgânicos. Recebê-los e com um estruturante, que são resíduos de biomassas e resíduos florestais, fazer um composto higienizado e estabilizado que possa ser colocado no mercado. A ideia é só esta, não é poluir, é despoluir e reciclar. Não vamos receber um único resíduo perigoso, vamos receber simplesmente orgânicos e fazer compostagem como se fazia na altura dos nossos avós e bisavós, é um processo 100% mecânico e biológico”, esclareceu.
Nuno Gabriel frisou ainda que a nova unidade “é completamente estanque” e que o processo decorre “em circuito fechado”.
“Tudo o que ali entra é reciclado, tudo. E sai tudo como um produto, o resíduo perde o seu estatuto, é o fim de vida de um resíduo, não vamos poluir, vamos despoluir”, reafirmou.
Questionado sobre o tratamento dado a eventuais efluentes ou lixiviados, o responsável da BioEnergias garantiu que estes serão “reciclados no processo de compostagem”, depois de encaminhados para uma lagoa no interior da unidade industrial “também perfeitamente estanque”.
“Tudo o que é fração líquida ou mais líquida vai ser incluída no processo e vamos ter ali perdas zero”, frisou.
Já sobre as queixas da população, nomeadamente os eventuais maus cheiros provenientes da nova unidade, Nuno Gabriel lembrou que no mesmo local de construção do CIVR (num terreno com uma área total de cerca de nove hectares, situado entre a linha ferroviária do Oeste e a estrada nacional 109) “laborou, desde a década de 70 até há poucos meses, uma suinicultura com quatro lagoas a céu aberto que não tinha como cheirar bem e com um passivo ambiental por resolver”.
Ao invés, de acordo com o administrador, o projeto da BioEnergias “foi bastante pensado e maturado” durante ano e meio “para mitigar qualquer risco de mau cheiro que possa existir” e inclui uma estufa fechada e estanque, colunas de desodorização e “variadíssimas cortinas arbóreas”, algumas constituídas por eucaliptos com cheiro a limão, medida que consta do licenciamento ambiental em consulta pública até 19 de outubro.
“Mas uma coisa posso garantir: qualquer mau cheiro que haja é infinitamente inferior ao cheiro que a suinicultura que laborou lá desde a década de 70 emanava”, disse Nuno Gabriel.
O administrador empresarial afirmou ainda que não existe no distrito de Coimbra uma unidade como o CIVR projetado para a Marinha das Ondas e que este será “uma das maiores unidades de compostagem do país”, permitindo tratar resíduos que agora são tratados noutros distritos.
“A nossa ideia será reduzir também essa pegada ecológica, porque os camiões em vez de andarem 100 ou 120 km como agora, vão andar 10 ou 15”, enfatizou.
Após a eventual atribuição da licença ambiental, segue-se a licença de obra e projetos de especialidade, da responsabilidade do município da Figueira da Foz. A Bionergias espera poder começar os trabalhos de instalação em março de 2019 para começar a laborar em 2020, indicou Nuno Gabriel.
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