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Emigrantes portugueses nas Bermudas são cartão-de-visita para o turismo em Portugal

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 anos atrás em 15-10-2022

Os portugueses chegaram às Bermudas em 1849 e representam hoje um quarto da população, mantendo as tradições culturais de tal forma vivas que muitos dos que passam pelo arquipélago ficam com vontade de conhecer Portugal.

É na Bermuda, a ilha principal deste arquipélago britânico, que vive a maior parte da comunidade portuguesa, mais presente na capital – Hamilton.

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Em declarações à Lusa, a cônsul honorária de Portugal em Hamilton, Andrea Moniz-DeSouza, destacou a forma integrada como a comunidade portuguesa vive no arquipélago, sendo uma mão-de-obra “muito apreciada pela sua qualidade”.

Apesar de em menor quantidade, a emigração portuguesa continua a registar-se, destacando-se a presença de portugueses nas áreas da jardinagem, construção, carpintaria, limpeza, mas também serviços, advocacia, contabilidade e seguros.

A principal origem continua a ser os Açores – de onde são oriundos 95% dos emigrantes portugueses nas Bermudas – e o motivo o mesmo de sempre: melhores vencimentos.

“Não há comparação. Qualquer salário em qualquer área, como a jardinagem, é três vezes superior nas Bermudas ao que é praticado em Portugal”, disse Andrea Moniz-DeSouza, advogada e um dos elementos mais ativos da comunidade portuguesa, sendo atualmente presidente da Casa dos Açores da Bermuda, fundada em 2015.

Em 2011, as autoridades bermudenses tentaram travar a emigração, limitando-a em número e tempo, mas o Governo foi obrigado a voltar atrás, dada a dependência da mão-de-obra emigrante para assegurar o motor da principal força da economia das Bermudas, que são agora as companhias internacionais.

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Estas empresas, explicou a cônsul honorária de Portugal, levam para as Bermudas muitos dos seus nacionais e se estes tivessem de deixar o território, levariam com eles as multinacionais, que se implantariam em outros países.

A força destas empresas, nomeadamente ao nível das companhias internacionais de seguros e outros serviços financeiros, é tal que ultrapassaram o turismo ao nível das fontes de rendimento de um país conhecido pelo seu elevado Produto Interno Bruto (PIB) ‘per capita’ – 120,3 mil euros (22,8 mil euros em Portugal).

Em relação aos portugueses, a ameaça de expulsão dos filhos de emigrantes que não estivessem a trabalhar ou a estudar, de 2013, ficou resolvida em 2017, podendo estes, desde então, permanecer no território, mesmo sem contrato de trabalho.

O Governo das Bermudas insiste, porém, em privilegiar os bermudenses, em alguns aspetos, como a aquisição de casa própria, o que em parte se deve às limitações geográficas do arquipélago onde vivem cerca de 66.000 habitantes, distribuídos pelos 53 quilómetros quadrados das suas 150 pequenas ilhas e ilhéus atlânticos, localizados nas Caraíbas.

Além de conhecidos pela qualidade do seu trabalho, os portugueses e lusodescendentes nas Bermudas destacam-se pela forma como mantêm vivas as suas tradições, conforme demonstram algumas das instituições que promovem várias atividades culturais, principalmente as oriundas dos Açores.

O Clube Vasco da Gama (1935), a Associação Cultural Portuguesa (1970) e a Casa dos Açores da Bermuda (2015) são exemplos de instituições que mantêm vivas tradições como o culto do Divino Espírito Santo ou a festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres.

“A nossa cultura está de boa saúde. Durante a pandemia os eventos foram suspensos, mas agora já foram retomados e estão mais ativos que nunca”, afirmou Andrea Moniz-DeSouza.

Estas manifestações culturais despertam cada vez mais o interesse dos bermudenses, com alguns a fazerem questão de assistir ou até mesmo participar, e levam mesmo a que muitos queiram conhecer Portugal.

Mas não só os bermudenses, referiu a cônsul honorária de Portugal. Muitos estrangeiros que trabalham nas multinacionais nas Bermudas, ao tomarem conhecimento destes eventos culturais, escolhem Portugal como destino turístico, congratulando-se com o país que ficam a conhecer, disse.

A jurista reconhece que não é fácil contar com a participação dos mais jovens nestas atividades, até porque muitos deles nem sequer conhecem os Açores ou Portugal continental, mas ainda assim vão contando com a sua presença.

Com vista à preservação da língua e da identidade portuguesa, existe uma escola de português, que é gerida pela Associação Cultural Portuguesa da Bermuda e funciona nas instalações do Clube Vasco da Gama.

Em setembro, o Governo Regional dos Açores concretizou mais uma vez o apoio a esta escola, atribuindo 8.474 euros à Associação Cultural Portuguesa da Bermuda.

Segundo o Governo Regional dos Açores, os apoios financeiros ao ensino oficial da língua portuguesa neste território ascendem a mais de 200 mil euros nas últimas duas décadas.

Nas Bermudas, os portugueses e lusodescendentes seguem a informação de Portugal e acompanham a maior parte das questões relacionadas com o país, como as campanhas eleitorais.

Contudo, para os que emigraram há mais tempo, voltar para Portugal nem sequer está nos seus horizontes, até porque estes emigrantes têm consciência que o país é hoje outro, quase um desconhecido, disse Andrea Moniz-DeSouza.

“Estes portugueses só conhecem o Portugal de quando emigraram. Sentem-se mais confortáveis nas Bermudas, que é o país que acabaram por conhecer melhor e onde vivem há mais tempo”, explicou.

Mas, segundo a jurista, a viver nas Bermudas há mais de 30 anos, “o amor continua” e muitos emigrantes choram quando o avião aterra nos Açores.

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