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Emigrante cabo-verdiano muda imagem de escola em Mindelo através da pintura
Mais de 40 artistas têm vindo a transformar a cidade cabo-verdiana do Mindelo com pinturas, num projeto impulsionado por um emigrante que já coloriu muros de locais públicos, jardins de infância e agora escolas.
Depois de quatro anos a “embelezar” vários locais da ilha de São Vicente, por iniciativa própria, nomeadamente pintando murais, o emigrante Balta Ben David, cabo-verdiano a viver nos Estados Unidos da América há 36 anos, apontou agora a sua atenção para a escola do ensino primário de Chã de Cemitério, Mindelo, pela sua proximidade com a instituição de ensino.
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“Chegou a um ponto que tive que decidir embelezar esta escola, por ser algo do coração, onde estudei, fiz a minha infância e que fica situada ao lado de onde era a minha casa. Foi um projeto que deixei para o fim porque há imensas escolas degradadas em São Vicente e, juntamente com a Biosfera [associação ambientalista], decidimos fazer o projeto ‘uma escola de cada vez’”, explicou à Lusa o mentor do projeto, Balta Ben David, desde novo emigrado nos Estados Unidos da América.
Explicou que as intervenções nas escolas têm sido dificultadas pelo estado das estruturas dos edifícios, em degradação, e que por isso os trabalhos ultrapassam as pinturas, que são o conceito de embelezamento do projeto.
Só o investimento na obra naquela escola excede os dois milhões de escudos (18.100 euros), numa instituição com quase 80 anos de existência, degradada e sem eletricidade.
“Temos que meter o piso, a eletricidade, arranjar as paredes, as carteiras antigas e a porta, que já possui quase oito décadas de existência e que estamos a trazer à vida novamente. Estou atrás de dois mil contos [dois milhões de escudos], também para fazer a vedação da escola, porque é muitas vezes alvo de vandalismo”, lamentou.
O projeto deste emigrante prevê ainda a construção de um parque infantil dentro da instituição, para manter as crianças dentro do recinto escolar nos intervalos e colocar espaços verdes. Um trabalho que transcende a imagem e o “embelezamento” do espaço, onde o mentor se propõe a criar novos conceitos.
“Vamos fazer uma escola de cada vez e não pretendo fazer apenas os desenhos, pois a ideia é mexer nas estruturas e ter uma linguagem nas escolas mais alegre para as crianças, para terem mais vontade de lá volta”, disse Balta David, que defende a educação e a saúde como pilares para o país.
O dinheiro que tem sido doado, assegura, é entregue diretamente à direção do estabelecimento, que é quem decide o seu melhor destino. A diretora da escola agora na mira da intervenção por este projeto, Alcídia Reis Cruz, contou que até agora receberam cerca de 400 mil escudos (3.600 euros) para a reabilitação do espaço. No entanto, a mais valia tem sido maior do que o valor monetário, por já influenciar no processo de ensino e aprendizagem.
“O processo desta pintura tem sido importante para todos que aqui trabalham, desde os funcionários, os professores, aos alunos, que se sentem muito mais motivados em estar numa escola agradável, com um ambiente agradável e com mensagens pedagógicas. Na rua, as mensagens são para o público que por aqui passa, e dentro da escola pretendemos colocar mensagens de valores, para que as crianças não os esqueçam e por isso considero o projeto muito interessante”, explicou a diretora.
No projeto, Balta David pretende um envolvimento mais célere do Ministério da Educação, para fazer face às dificuldades de degradação das escolas por onde pretendem intervir. Na pequena escola de Chã de Cemitério, os trabalhos já duram há duas semanas, mas ao ritmo de “uma parede de cada vez”, por se tratar de um edifício mais antigo.
Admite que nestas obras que tem feito em São Vicente, pintando paredes e recuperando edifícios, sobretudo utilizados pelas crianças, já gastou nos últimos quatro anos cerca de meio milhão de escudos (4.500 euros) do próprio bolso, mas estima que globalmente, estes trabalhos já ultrapassem os quatro milhões de escudos (36.400 euros).
“Do meu bolso coloquei mais de 500 contos, sem dúvida, porque muitas das paredes pintadas foram do meu bolso, compro o material, chamo alguns artistas e cada um recebe pelo trabalho”, explicou.
Os financiamentos têm partido de empresas locais, de cidadãos nacionais, emigrantes, da família e até de antigos estudantes.
O objetivo é ter uma linguagem em cada parede, em cada espaço e contexto, que os diferentes artistas implementam, através dos pincéis.
“Em cada Lugar que vou, gosto de usar uma linguagem. Fiz os jardins infantis, os polivalentes, a praça de ‘skate’ e nesta escola decidimos colocar mensagens de educação, dos alertas ao abuso sexual que infelizmente temos no país e do abuso de álcool, por exemplo”, detalhou.
Um trabalho que o emigrante, que regularmente regressa ao Mindelo, diz estar a receber o incentivo local, o que o motiva a continuar, estando já a preparar a intervenção na escola de Monte Sossego, também em São Vicente.
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