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Em Bissau o negócio está mau e os consumidores queixam-se dos preços
Na feira de Kirintim, entre os mercados do Bandim e do Caracol, em Bissau, capital guineense, os comerciantes e consumidores queixam-se que não há negócio, dos elevados preços dos bens de consumo e da falta de intervenção do Governo.
O país ainda não tinha recuperado do impacto económico da pandemia da covid-19, quando o conflito na Ucrânia estalou e a Guiné-Bissau, um dos países mais pobres do mundo e que importa quase 90% daquilo que consome, já sente os efeitos da guerra na “barriga”.
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As previsões económicas do Fundo Monetário Internacional apontam para uma inflação superior a 7% em 2022. No país, os preços aumentaram, principalmente os dos bens essenciais, como o arroz, base alimentar dos guineenses, açúcar, farinha, óleo, sabão.
“As coisas aumentaram, estamos cansados, não há dinheiro e quando conseguimos um bocadinho vai principalmente para o arroz. Nós na Guiné consumimos arroz, os nossos filhos e nós próprios quando nascemos dos nossos pais só consumimos e conhecemos arroz. Quando tivemos os nossos filhos também lhes demos arroz”, afirma à Lusa Nené Djaló.
Os cálculos são simples. Um saco, de 50 quilogramas, que há dois meses custava 16.000 francos cfa (cerca de 24,40 euros) custa agora entre 22.000 e 24.000 francos cfa (entre 33,54 e 36,50 euros), num país onde o ordenado mínimo é de 50.000 francos cfa (cerca de 75 euros).
“Hoje o arroz está muito caro. Lutamos no dia-a-dia para alimentar os nossos filhos, para os mandar para a escola, e manter as refeições diárias. Outras coisas de alimentação, como o açúcar e o óleo, está tudo caro”, diz Nené Djaló.
“Estamos cansados, principalmente, nós, mulheres. Somos as primeiras a sair para a rua de manhã cedo para procurar o pão de cada dia”, acrescenta.
Esta guineense pede uma redução dos preços, porque há muita pobreza, e ajuda, sobretudo para as mulheres.
“Tenham pena de nós mulheres que nos matamos a trabalhar. Os homens não se cansam tanto, nós é que nos cansamos com os nossos filhos, porque os homens não se preocupam com os filhos. Pedimos aos governantes e às pessoas de boa vontade deste país para nos ajudarem a sair da situação em que estamos”, apela.
Segundo os dados da Relatório de Revisão Voluntária, relativos aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, em 2020 a taxa de pobreza na Guiné-Bissau era de 66,6% da população, que ronda os dois milhões de habitantes.
O Programa Alimentar Mundial (PAM) alertou em maio passado que a insegurança alimentar no país piorou desde o início do ano devido ao aumento dos preços dos produtos alimentares como consequência da covid-19 e da guerra na Ucrânia.
Segundo o PAM, metade das famílias guineenses não têm capacidade económica para cobrir o cabaz de despesas mínimas, cujo valor ‘per capita’ e por mês foi estimado em cerca de 40 euros.
“Os produtos aumentaram bastante, mas quando dizem que os preços aumentaram peçam explicações ao Estado, porque foram eles que aumentaram primeiro, porque se a situação está assim no mercado, os nossos governantes é que devem pôr pessoas a ver o preço dos produtos”, diz Mae Ufongué, referindo-se à fiscalização que o Governo deveria fazer.
A guineense deu como exemplo o açúcar, que não há no mercado, mas que está a ser vendido às escondidas.
“Mas o Estado está aqui e fica parado e não vê tudo o que acontece atentamente e os guineenses dizem que os preços aumentam, mas o Estado é que os aumenta”, diz.
Questionada pela Lusa sobre se é mais difícil comprar bens alimentares, Mae Ufongué confirma.
“Um saco de arroz custa 22.000, compravas entre 18 e 16 mil francos, mas estão a ver a situação. A farinha não há, um saco custa entre 40 e 50 mil francos. Em que país é que vivemos? Com baixo salários, não há nada, pouca alimentação, as pessoas sempre malnutridas. O que é que podemos fazer? Nada, não podemos fazer nada”, conclui.
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