O golpe falhado do general Spínola em 11 de março de 1975 pôs militares em armas, aviões e helicópteros a bombardear o quartel do RALIS, em Lisboa, fez um morto e fez o país guinar à esquerda.
O “Verão Quente” ou Processo Revolucionário em Curso (PREC), foi o período mais conturbado da Revolução dos Cravos, tempo em que “lá fora” os aliados viam Portugal “vermelho”, dominando pelos comunistas. E essa radicalização começou nessa terça-feira, 11 de março de 1975, menos de um ano após a queda da ditadura mais longa na Europa.
Às 11:50, três aviões T-6 e três helicópteros equipados com canhões, da Base Aérea de Tancos, bombardearam o Regimento de Artilharia Ligeira nº1, em Lisboa, também conhecido por RALIS, tida como “progressista”, matando o soldado Joaquim Carvalho Luís.
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Simultaneamente, três aviões Nord-Atlas e mais oito helicópteros desembarcaram tropas paraquedistas que tentaram tomar de assalto a unidade onde então estava colocado o capitão Dinis de Almeida.
No comando da Guarda Nacional Republicana, foi detido o comandante, general Pinto Ferreira, enquanto o emissor do Porto Alto do então Rádio Clube Português foi também tomado de assalto.
Uma hora após o início do golpe, o Estado-Maior General das Forças Armadas alertava todas as unidades do Exército, Força Aérea, Armada, GNR, PSP e Guarda Fiscal para se colocarem “em estado de mobilização para destruir forças rebeldes contra-revolucionárias que atacam unidades do MFA”.
Na Encarnação, milhares de civis afluíam ao RALIS para dissuadir os paraquedistas que cercavam a unidade, enquanto o aeroporto internacional de Lisboa, ao lado, suspendia o tráfego.
Estas foram as principais operações, falhadas, de um grupo de militares chefiado pelo general Spínola que, para a História, tinha como objetivo evitar uma nunca provada “matança da Páscoa” de 1.500 personalidades civis e militares tidos como de direita ou extrema-direita de 12 para 13 de março por alegadas “brigadas comunistas”.
Com o falhanço da “intentona”, como então foi chamada, Spínola e os seus colaboradores mais próximos fugiram de helicóptero para Espanha, para a base aérea de Talavera la Real, próximo de Badajoz, tendo sido posteriormente expulso das Forças Armas com mais 18 oficiais (três anos mais tarde foram reintegrados).
A meio da tarde, rendem-se as forças revoltosas da GNR, no Carmo, e, no RALIS, depois do célebre diálogo televisionado entre o capitão Diniz de Almeida e o líder dos paraquedistas que cercavam a unidade, Sebastião Martins, mediado pelo oficial da Marinha Costa Correia. Para a história, ficaram as imagens de soldados que se enfrentaram a baixar armas e a abraçar-se.
O “desaire” de Spínola foi aproveitado pelas forças de esquerda que fizeram guinar a Revolução dos Cravos ainda mais à esquerda.
Na noite de 11 de Março de 1975, uma agitada Assembleia do MFA (Movimento das Forças Armadas), que ficou conhecida por Assembleia “selvagem”, reuniu-se de emergência e institucionalizou o Movimento, criando o Conselho da Revolução.
E avançou a nacionalização da banca e dos seguros, medidas que vieram a ser anunciadas mais tarde, e que juntamente com os transportes e outros sectores económicos-chave, fizeram com que o Estado viesse a ficar na posse de cerca de 1.200 empresas, incluindo barbearias. Mais tarde, avançam também as ocupações de terras e Reforma Agrária no Alentejo e Ribatejo.
Os acontecimentos de 11 de Março de 1975 deram origem ao Verão Quente ou PREC, que só viria a terminar a 25 de Novembro, que opôs militares da extrema-esquerda e “moderados”, e ditou o fim da revolução portuguesa e a normalização democrática do país.
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