Opinião
Elogio de Rúben Amorim
Num meio em que, muitas vezes, parece que ser o maior ignorante descontrolado vale mais de três pontos, Rúben Amorim é para lá de uma lufada de ar fresco: é mesmo um tufão de positividade e respeito. Quase sempre tranquilo, mas nem por isso menos firme, é particularmente impressionante a forma como lida com a toxicidade do jornalismo e do comentário desportivos e com a clubite que afeta quase todos os portugueses que se interessam pelo fenómeno futebolístico.
Verdadeiro Maldini das conferências de imprensa, desarma com classe as muitas granadas em forma de pergunta que lhe são lançadas todas as semanas, sai a jogar qual imperturbável Beckenbauer das respostas e não raras vezes chega a ser mesmo a parecer um Ronaldinho capaz de fintar qualquer adversário (metafórico).
PUBLICIDADE
Exímio a recusar confrontos desnecessários ou alimentar polémicas, escolhe as suas palavras com cuidado, recusando desculpas fáceis, teorias da conspiração ou o atirar de culpas para terceiros. Os dedos de uma mão chegarão para contar as vezes em que criticou um árbitro e não me recordo de alguma vez ter insinuado que a equipa adversária correu mais do que costuma fazer contra os rivais do seu clube… e há quem, com estatuto semelhante, não resista a usar esse argumento particularmente feio a cada derrota.
A proeza é ainda mais admirável se considerarmos que, depois de ter beneficiado do elemento da surpresa nos primeiros tempos – é muito raro um treinador de um grande clube em Portugal juntar estas características pessoais – nem agora que já é bem conhecida a sua maneira de agir têm mais sucesso os que tentam provocá-lo ou desviá-lo do trajeto que planeou. Tem os seus defeitos, pois claro, e momentos em que poderia reagir de outra forma, mas não só são muito poucos, como os assume e procura não repetir.
Esta atitude, para mais acompanhada de demonstrações de competência e de títulos, veio mostrar que o futebol, como o desporto em geral, não precisa de ser a lixeira em que tantas vezes se transforma. Rúben Amorim contribui para um ambiente mais saudável e positivo para jogadores, treinadores e adeptos, assim eles sejam capazes de valorizar essa salubridade.
E daí, talvez possamos partir para um país de Rúbens em diferentes áreas. A começar pela política, não gostariam de ter um presidente de Câmara capaz de assumir que não faz melhor por incapacidade própria e não por culpa do anterior ocupante do cargo, um líder da oposição que fosse suficientemente adulto para elogiar uma medida do governo, ou um primeiro-ministro que reconhecesse que devia ter substituído os defesas… perdão, os ministros?
No fundo, um país onde pudéssemos perguntar: E se corre bem?
OPINIÃO – PEDRO SANTOS – ESPECIALISTA EM COMUNICAÇÃO
Related Images:
PUBLICIDADE