Opinião

Elogio da Mediocridade

TORRES FARINHA | 11 anos atrás em 11-08-2013

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TORRES FARINHA

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Numa época em que cada vez mais medíocres se vêem desesperados para esconder a sua incompetência, cada vez mais elaboram manobras de diversão quer na comunicação social quer na sociedade para desviar as atenções daquilo que é a verdade dos factos, inclusive denegrindo o carácter de muitas pessoas íntegras, para que aqueles pareçam o que não são.

Esta é uma razão que me levou a retirar do pó dos anos o livro de Amadeu Amaral, O elogio da mediocridade, retirando-lhe alguns extractos para destacar o verdadeiro ênfase do Elogio dos Medíocres.

Amadeu diz que:

–   “A mediocridade é necessária, absolutamente necessária – quer no sentido de coisa inevitável quer no sentido de coisa útil. É porque tem de ser; além disso é benéfica.

A turba imensa dos medíocres constitui uma como nebulosa informe, sementeira protoplásmica de estrelas. A maioria dos grandes de lá saiu, e felizes daqueles que saíram de vez, para não mais tornar ao rebanho depois de um esforço máximo e prodigioso.”

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A propósito da literatura refere que:

–   “Toda a literatura pressupõe uma multidão de medíocres, e não só de medíocres, senão também de inferiores, de rudimentares, de falhados e de decadentes. Tanto mais pujante e luminosa ela é, tanto mais grossa a multidão rasteira. Esse mato baixo sustenta a indispensável camada de húmus, resguarda e entretém a vida incipiente das árvores destinadas à máxima expansão.”

Quanto do precedente se aplica à vida nacional; quão vulgar é a expressão “secar à volta”, certamente para criar o húmus, onde outros ainda mais medíocres vegetem para dar alguma expressão à mediocridade que possa florescer desse húmus, ou então se a vida no húmus o não o for, terá de passar a sê-lo com o tempo, fruto da atrofia permanente a que é sujeita.

Mas esta não devia ser a abordagem antagónica à cultura de uma sociedade evoluída, baseada no sucesso? Como diz o povo “diz-me com quem andas dir-te-ei quem és”. Como a cultura é da mediocridade e os elogios são para o resultado desta, então, de facto, só se pode aplaudir a pequenez.

É aqui que urge redesenhar a cultura actual da sociedade, das organizações e dos dirigentes, sejam estes políticos ou outros, para transformar o “elogio da mediocridade” no “elogio do sucesso”.

Vamos então reescrever o discurso de Amadeu para o paradigma do sucesso:

–   O sucesso é necessário, absolutamente necessário – quer no sentido de coisa inevitável quer no sentido de coisa útil. É porque tem de ser; além disso é benéfico.

A turba imensa dos bem-sucedidos constitui-se como uma nebulosa harmoniosa, uma sementeira florescente de estrelas. A maioria dos grandes lá cresceu, e felizes daqueles que aí ficaram, onde na diversidade encontraram o seu sucesso individual e contribuíram para o sucesso do colectivo, depois de um esforço individual com a ajuda de todos.

Se passarmos da literatura para a vida em geral, passaremos a ter:

–   Toda a obra pressupõe uma multidão de bem-sucedidos, e não só de realizados, senão também de excecionais, de lutadores, de empreendedores e de visionários. Tanto mais pujante e luminosa a obra é, tanto mais a multidão jubila. Esse mato florescente sustenta a indispensável camada de húmus, resguarda e alimenta a vida fulgurante destinada ao sucesso e à expansão.

Das palavras sábias de Amadeu Amaral, às reflexões utópicas de um sonhador, cabe a cada um escolher, aprofundar e consolidar a vida que pretende, a sociedade que quer e o futuro que ambiciona, e esta é uma altura propícia para transpor a charneira. Vale a pena reflectir nisso.

TORRES FARINHA

Investigador

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