Saúde

Eis o motivo pelo qual o som do giz a riscar o quadro nos faz tanta confusão

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 1 semana atrás em 10-04-2025

Já alguma vez sentiu um arrepio a percorrer o corpo ao ouvir o som de um pedaço de giz a riscar a ardósia? Ou talvez tenha fechado os dentes ao escutar um garfo a raspar num prato? Embora estas reações sejam familiares para a maioria de nós, a pergunta que surge é: por que razão nos afetam de forma tão intensa e automática?

Existem sons que provocam em nós uma sensação de desconforto quase insuportável, com reações que variam entre arrepios momentâneos, tensão muscular e a vontade instantânea de tapar os ouvidos. O som de um pedaço de giz a riscar a ardósia, o garfo a raspar um prato ou o guinchar de um balão quando o apertamos são apenas alguns exemplos de ruídos agudos e estridentes que costumam gerar esse tipo de reações. Mas o que está por trás deste fenómeno?

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A explicação para estas reações não está na mera casualidade, mas sim numa profunda ligação com a nossa evolução como espécie. Estudos realizados sobre o comportamento humano revelaram que certos sons, particularmente aqueles com frequências agudas, provocam uma resposta emocional intensa no nosso cérebro. Estes ruídos encontram-se, normalmente, entre os 2.000 e 4.000 Hz, uma faixa que coincide com a sensibilidade auditiva máxima dos nossos ouvidos. E, longe de ser uma coincidência, esse intervalo de frequências tem um forte vínculo com a nossa sobrevivência ancestral.

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Imaginemos por um momento os nossos antepassados num ambiente selvagem, onde os sons agudos podiam ser sinais de alerta frente a perigos iminentes. Um guincho de um animal em fuga ou os gritos de outros seres humanos poderiam indicar a proximidade de um predador. Assim, a nossa capacidade de reagir rapidamente a esses sons evoluiu como um mecanismo de defesa. A ativação da amígdala – a parte do cérebro responsável pelas emoções e pela reação de luta ou fuga – foi fundamental para nos preparar para qualquer ameaça.

Hoje em dia, estes sons não representam mais um perigo real, mas a nossa fisiologia continua a reagir da mesma forma, como se estivéssemos a enfrentar uma situação de risco. Isto é um reflexo de como o nosso cérebro ainda guarda vestígios do passado, reagindo com a mesma intensidade a sons que, em tempos remotos, poderiam salvar-nos a vida, dá conta a National Geographic.

Além da evolução, a estrutura do nosso ouvido também desempenha um papel importante neste fenómeno. O canal auditivo humano é particularmente eficaz em amplificar os sons nas faixas de frequência mais agudas. Como resultado, esses sons são mais intensos e muitas vezes mais desagradáveis para nós. Esta é uma das razões pelas quais algumas pessoas são mais sensíveis a esses sons do que outras – pequenas variações anatómicas podem influenciar a forma como processamos esses estímulos.

A Influência Cultural e Psicológica

Embora as razões biológicas e evolutivas expliquem a base deste fenómeno, a cultura também pode desempenhar um papel importante na nossa resposta a certos sons. Desde tenra idade, associamos determinadas frequências sonoras a situações desconfortáveis ou stressantes. Um exemplo claro disso é o som de um pedaço de giz a riscar a ardósia, algo comum nas escolas, que pode gerar uma sensação de ansiedade relacionada ao ambiente escolar. Quando vemos outras pessoas reagirem com desconforto a sons específicos, o nosso cérebro reforça esta associação, tornando-nos mais propensos a ter a mesma reação.

A Reacção Automática

Independentemente da sua origem, a reação a esses sons é um reflexo automático e inevitável. Mesmo sabendo que não há perigo real envolvido, o nosso corpo continua a reagir de forma visceral e imediata. No entanto, ao compreendermos as razões subjacentes a este fenómeno, podemos ganhar uma maior compreensão sobre o seu impacto no nosso organismo, o que pode até ajudar-nos a lidar com essas situações de uma maneira mais racional. Quem sabe, até, a permitir-nos rir de nós próprios quando uma simples raspagem de garfo no prato nos faz saltar da cadeira!

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