Centenas de camiões percorrem diariamente a estrada entre o porto de Aveiro e Mira, transportando toneladas de areia para reforçar o cordão dunar entre as praias da Vagueira e da Costa Nova.
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A obra, prevista já antes dos últimos temporais, está a ser executada no âmbito do Programa Polis Ria de Aveiro, e tem por objetivo consolidar as dunas ao longo de 15 quilómetros, com areias provenientes de dragagens, há anos depositadas no Porto de Aveiro.
No total, são cerca de 800 mil metros cúbicos de areia, retirada da enorme duna artificial criada nos terraplenos do porto, com os inertes resultantes da construção dos novos terminais portuários, o que gerou o protesto de moradores da Gafanha da Nazaré, que se viram privados da vista para a Ria.
A área litoral entre Mira e a Costa Nova, cujas dunas estão ser reforçadas, tem sofrido, nas últimas décadas, um grande desgaste por erosão, chegando o mar a galgar as dunas e a unir-se à Ria, pondo em risco aglomerados populacionais.
De acordo com um estudo do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, no âmbito do projeto “Change”, o porto de Aveiro e as sucessivas obras para estabilização da barra e aumento dos molhes são geralmente consideradas um importante fator de agravamento da erosão nas praias a Sul”.
José Luís Cacho, presidente da Administração do Porto de Aveiro (APA), contrapõem que aquela entidade tem vindo a depositar na deriva costeira, ao longo dos últimos anos, milhões de toneladas de areia, o que tem impedido o avanço do mar.
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“Necessitamos de fazer dragagens para manter em condições operacionais os acessos marítimos ao Porto de Aveiro e a bacia de manobra e todas essas areias são depositadas na deriva costeira. Ainda no ano passado colocámos dois milhões de toneladas ao longo da costa entre a Barra e a Vagueira e há dois anos foi cerca de um milhão de toneladas e todos os anos o temos vindo a fazer. Infelizmente não tem sido suficiente para combater a erosão costeira, mas acredito que se essas dragagens e deposição de inertes não tivessem sido feitas, hoje teríamos um problema muito mais grave”, diz.
As praias da Costa Nova e Vagueira foram “protegidas com infraestruturas pesadas desde os anos 70. Em 1973 foi construído um campo com 11 esporões, que exige frequente manutenção e em 2006 foram substituídos dois esporões.
Posteriormente “têm sido feitos enchimentos entre a Barra e o Sul da Costa Nova com areias provenientes do Porto de Aveiro”. No entanto, segundo o estudo académico “estes enchimentos não têm aparentemente efeitos na zona da Vagueira”.
A solução de reforçar as dunas “é cara” e, de acordo com José Luís Cacho, só foi possível com a parceria entre a APA, o Ministério do Ambiente e os municípios, que permitiu o financiamento de fundos comunitários através do programa Polis Litoral Ria de Aveiro.
Segundo o “Change”, a Praia da Vagueira é “a zona onde se regista o maior recuo da linha de costa, com o desaparecimento recente do areal na maré cheia” e não é a primeira vez que é feita a reconstituição das dunas, embora sem a envergadura da operação em curso.
Em 2001, o mar galgou o cordão dunar e chegou à Ria, tomando terrenos agrícolas, o que obrigou a uma intervenção de emergência, mas com o último inverno, também ao norte, na Praia da Barra, a areia quase desapareceu.
O ministro do Ambiente, que visitou o local, admitiu que também ali possa ser necessário intervir para defender a costa.
Enquanto o mar vai desfazendo as dunas, o Porto de Aveiro quer expandir-se e debate-se com o problema de ter de se libertar da areia que se acumula numa gigantesca duna artificial, que a operação em curso só minimamente remove.
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