Política

Disponibilidade dos partidos para eventuais acordos marcou campanha eleitoral na Madeira

Notícias de Coimbra | 6 meses atrás em 24-05-2024

A disponibilidade dos partidos para eventuais acordos após as legislativas de domingo na Madeira foi o tema dominante da campanha que hoje termina, mais do que o processo sobre suspeitas de corrupção que motivou a queda do executivo PSD/CDS-PP.

A candidatura social-democrata, encabeçada por Miguel Albuquerque, líder do partido e presidente demissionário do Governo Regional, ficou isolada face à recusa das restantes 13 forças políticas concorrentes em estabelecer alianças com o PSD, incluindo os atuais parceiros – CDS-PP em coligação e PAN com acordo de incidência parlamentar.

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O candidato do PSD, partido que governa a região autónoma desde 1976, reagiu mostrando disponibilidade para dialogar no sentido de encontrar “soluções de governo” e assegurar a “estabilidade na região”, mas garantiu que não fará acordos com “marxistas”, enumerando o PS, o BE e o PCP.

Miguel Albuquerque disse também temer a “ingovernabilidade na região” e admitiu formar um governo minoritário, embora considere essa uma “má solução”, mostrando-se sempre confiante na vitória e sublinhando que, se ganhar com maioria absoluta, será “ótimo”.

O CDS-PP, parceiro de coligação do PSD desde 2019, quando este perdeu pela primeira vez a maioria absoluta, e o PAN, cuja deputada única e atual cabeça de lista, Mónica Freitas, assinou um acordo de incidência parlamentar com os social-democratas em 2023, garantem agora que não farão novos acordos, mas dizem estar disponíveis para entendimentos ao nível da Assembleia Legislativa.

Posição semelhante foi assumida pelo Chega, atualmente com quatro deputados, embora o presidente do partido, André Ventura, que se encontra na Madeira desde terça-feira, tenha exigido como condições para um “possível entendimento” pós-eleitoral com o PSD uma auditoria às contas públicas e o afastamento de Miguel Albuquerque, reforçando a luta contra a corrupção.

Por seu lado, o cabeça de lista da Iniciativa Liberal, Nuno Morna, também deputado único, afirmou que o PS é “tão confiável” como Miguel Albuquerque e como o Chega, reiterando que não aceita acordos com estas forças políticas.

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O debate sobre eventuais entendimentos entre partidos decorre da perceção generalizada de que o PSD vai ganhar as eleições, mas sem maioria absoluta.

Durante a campanha, o cabeça de lista do CDS-PP, José Manuel Rodrigues, também presidente do parlamento desde 2019, defendeu que o seu partido é um “porto seguro para aqueles que estão zangados com as desorientações e os desatinos do PSD”.

Já do lado da esquerda, a disponibilidade para acordos é mais ampla, com o PS, o maior partido da oposição regional, com 11 deputados, a estabelecer “sentido proibido” apenas ao Chega e ao PSD, o que significa que admite entendimentos com os restantes partidos.

O cabeça de lista socialista, Paulo Cafôfo, insistiu durante toda a campanha que está na hora de “virar a página” na região e que o PS é o único partido capaz de assegurar uma “alternativa de governação”.

O BE, atualmente representado por um deputado, também está disponível para acordos à esquerda, ao passo que o PCP, outro partido com um deputado único no parlamento regional, ainda não precisou qual será a sua posição, com o cabeça de lista, Edgar Silva, a sublinhar que “não tem nada a negociar” até ao dia das eleições.

O JPP, o segundo maior partido da oposição, com cinco deputados, também deixou claro que “com o PSD não há qualquer hipótese [de acordo], nem com Miguel Albuquerque”, mas teceu igualmente críticas ao PS, acusando Paulo Cafôfo de arrogância ao afirmar que “a luta eleitoral é entre o PSD e o PS”.

A habitação, a taxa de risco de pobreza, a redução de impostos e os problemas no setor da saúde foram temas transversais a todas as candidaturas, numa campanha em que os partidos, com e sem representação parlamentar, privilegiaram o contacto direto com a população na rua e revelaram algum desgaste anímico, apesar de alguns terem contado com a presença dos líderes nacionais, como Pedro Nuno Santos (PS), André Ventura (Chega), Paulo Raimundo (PCP), Mariana Mortágua (BE), Rui Rocha (IL), Rui Tavares (Livre) e Márcia Henriques (RIR).

O combate à corrupção marcou também o discurso dos candidatos, mas o processo que investiga suspeitas no arquipélago e que motivou a queda do Governo PSD/CDS-PP, no qual o chefe do executivo foi constituído arguido, não foi muito explorado pela oposição, servindo apenas de pretexto para justificar a indisponibilidade para eventuais acordos com os social-democratas.

Num comício na quinta-feira, Miguel Albuquerque também abordou o assunto, pedindo para ninguém se assustar com o processo e assegurando que o partido vai continuar “sem medo de nada”.

As legislativas da Madeira decorrem com 14 candidaturas a disputar os 47 lugares no parlamento regional, num círculo eleitoral único: ADN, BE, PS, Livre, IL, RIR, CDU (PCP/PEV), Chega, CDS-PP, MPT, PSD, PAN, PTP e JPP.

As eleições antecipadas ocorrem oito meses após as mais recentes legislativas regionais, depois de o Presidente da República ter dissolvido o parlamento madeirense, na sequência da crise política desencadeada em janeiro com o processo sobre suspeitas de corrupção.

Em setembro de 2023, a coligação PSD/CDS venceu sem maioria absoluta e elegeu 23 deputados (20 sociais-democratas e três centristas). O PS conseguiu 11, o JPP cinco, o Chega quatro, enquanto a CDU, a IL, o PAN (que assinou um acordo de incidência parlamentar com o PSD) e o BE obtiveram um mandato cada.

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