Celeste elogia artistas que não vivem à custa do Estado. Cristina não gosta da conversa!
A companhia de teatro de Leiria elogiada pela diretora regional de Cultura do Centro por prescindir de apoios do Estado anunciou hoje que vai apresentar uma candidatura para obtenção de financiamento da Direção-Geral das Artes (DGArtes).
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Em comunicado, o diretor do Leirena Teatro, Frédéric da Cruz Pires, admite “inúmeras dificuldades” para prosseguir a atividade e garante uma candidatura ao próximo quadro de apoios públicos.
O responsável pela companhia justifica com “o desespero de causa” o convite feito à diretora regional de Cultura do Centro, Celeste Amaro, que tinha como intenção dar a conhecer a programação para 2018 e mostrar as dificuldades que levaram à redução do elenco de sete para três atores, no último ano.
O grupo existe há sete anos e trabalha num antigo centro comercial de Leiria cedido por particulares, num espaço com salas onde chove.
Na sessão de apresentação da programação, a 02 de março, a diretora regional de Cultura do Centro justificou a presença em Leiria porque, numa reunião que teve com a companhia em Coimbra, “não pediram dinheiro”.
“Como é possível? Ainda por cima na área do teatro! Foi algo que me tocou bastante. É uma lição de como um grupo de teatro profissional, com três atores, que se dedica de corpo e alma ao seu trabalho, vive sem pedir dinheiro, não incomoda a administração central”, disse então Celeste Amaro.
A diretora de Cultura do Centro elogiou ainda a atitude do grupo por não ter apresentado candidatura aos apoios da Direção Geral das Artes: “Preferiram estar a trabalhar nesta programação, que não fica nada a dever às companhias profissionais subsidiadas, em que vez de estarem ao computador a tratar do processo. As pessoas de Leiria devem estar orgulhosas por ter uma companhia assim”.
À agência Lusa, Frédéric da Cruz Pires explica que recebeu “diversos contactos” de responsáveis teatrais, “pedindo explicações”.
No comunicado, o diretor da companhia afirma que não convidou Celeste Amaro para mostrar ter feito programação “sem subsídios” nem para se “comparar a nenhuma outra estrutura”.
“Nestes sete anos de entrega e luta para a construção de projetos (…) as dificuldades do Leirena Teatro foram e continuam a ser inúmeras, quer sejam técnicas, financeiras, burocráticas e espaciais”, afirmou.
O grupo já tentou no passado, sem sucesso, obter subsídios públicos, e promete agora voltar a candidatar-se, “seguramente”, aos próximos apoios da DGArtes, através da ação de uma produtora recentemente contratada para o efeito.
“Será que mesmo sem subsídio iríamos deixar na gaveta os nossos projetos? Deixar para trás a vontade de criar? Deixar de trabalhar com a comunidade? Deixar a companhia desaparecer? Não”, acrescenta Frédéric da Cruz Pires.
Entretanto, o Bloco de Esquerda enviou um requerimento ao Ministério da Cultural para saber se o Governo considera que a diretora regional da Cultura do Centro tem condições para continuar no cargo, após elogiar uma companhia de teatro de Leiria que não apresentou candidatura aos apoios às artes.
Para o BE, as declarações de Celeste Amaro “contrariam de forma evidente o programa do atual Governo” no novo modelo de apoio às artes, assim como “os procedimentos concursais definidos pelo próprio Ministério da Cultura”.
Na interpelação ao Governo, o partido liderado por Cristina Martins diz que a diretora regional da Cultura do Centro “revela a sua incapacidade em construir e manter uma saudável relação de trabalho, respeito e confiança recíproca com os agentes culturais da região”, considerando as afirmações proferidas “insultuosas em relação a artistas e estruturas artísticas”.
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