Quando alguma coisa não dá certo, lembro-me da minha primeira professora, ela nunca falhou quando dizia que o tempo curava tudo. Na fase da inocência era maravilhoso acreditar nas pessoas, mesmo naquelas que diziam “não” para as balas e os doces.
Sê alegre como a experiência da primeira vez, eis o meu modus operandi, e o confronto com a realidade tem sido inspirador. Observo esse tempo moderno que cheira a exaustão desde o pequeno-almoço.
Olho para o relógio parado do restaurante e é um alívio eminente. Percebo que ainda é domingo. Os bons domingos são aqueles que disfarçam as pessoas de santas. Oiço as famílias dizerem “sim” a tudo para as crianças, e isso parece universal: dizer sim a tudo.
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Estou a fingir que leio o jornal; mas, meus os olhos estão fixos nas palavras-cruzadas na linha que diz: afirmação em grego com três letras. O mundo conspira a favor do sim.
Houve um tempo em que ensinavam que discordar não trazia frustrações às crianças, mas, aprendizagens importantes para a vida adulta. Alguns, cresceram frustrados com a insistência do que era correto, mas, foram ajustados mentalmente. Assim contribuem para o senso crítico. Faço parte dessa população em movimento.
Pareço conservadora e obcecada pela perfeição, porque fui moldada por pessoas inquietas, que não desanimavam quando sabiam a diferença entre a inércia e a revolução.
Sem julgamentos ou respostas, o que as pessoas não sabem é que, talvez, se pudessem voltar ao passado fariam tudo exatamente como na primeira vez. Há algo que a tecnologia e os seus desdobramentos não podem fazer por nós: viver é a prova disso.
Fui sempre discreta com as frustrações, aceitei os estereótipos e a pureza volátil dos sentimentos. Criei os meus próprios clássicos, e onde não havia um rio para navegar eu desenhei-o e agora enfeita a parede da minha sala.
OPINIÃO | ANGEL MACHADO – JORNALISTA
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