Coimbra
Despovoamento e postura dos cidadãos explicam zero infeções no interior da região centro
O despovoamento territorial e isolamento das populações, bem como o comportamento cívico dos cidadãos e medidas tomadas atempadamente, explicam, segundo vários presidentes de Câmara, a ausência de casos de covid-19 em municípios do interior da região Centro.
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Segundo um levantamento realizado pela agência Lusa, nove concelhos dos distritos de Coimbra, Guarda, Castelo Branco e Viseu mantinham-se, na quarta-feira, sem qualquer caso de infeção pelo novo coronavírus.
A lista inclui os municípios de São João da Pesqueira e Tarouca (Viseu), Pampilhosa da Serra (Coimbra), Mêda (Guarda) e Idanha-a-Nova, Proença-a-Nova, Belmonte, Oleiros e Vila Velha de Ródão, todos no distrito de Castelo Branco.
Em declarações à Lusa, João Lobo, presidente da Comissão Distrital de Proteção Civil de Castelo Branco, confirma os zero casos de infeção nos cinco municípios daquele distrito.
“Tudo isto tem também a ver com o isolamento social a que estamos votados há muitos anos. Isto não pode ter só coisas negativas. O despovoamento, infelizmente, face à covid-19, tem esta ligação quase direta”, refere o também presidente da Câmara de Proença-a-Nova sobre a situação no concelho que lidera.
Ainda assim, João Lobo realça o trabalho que foi feito logo no início da pandemia: “Fizemos um trabalho importante junto das IPSS [instituições particulares de solidariedade social], forças de segurança, bombeiros e colaboradores do município. Depois, os avisos que fizemos chegar a todas as localidades do concelho, com gravações de áudio, e, claro, o comportamento irrepreensível das comunidades”, sublinha.
No município vizinho de Vila Velha de Ródão, junto ao rio Tejo, o presidente da Câmara, Luís Pereira, destaca, numa primeira análise, o comportamento “irrepreensível” adotado pelos cidadãos como justificação para a ausência de casos de doença.
“Analisando o caso de Vila Velha de Ródão, acho que os bons resultados alcançados até agora ficam a dever-se ao comportamento cívico. As pessoas tiveram um comportamento irrepreensível”, sustenta o autarca.
Luís Pereira realça também a tomada de medidas em tempo oportuno, não só pelo município de Vila Velha de Ródão, como também pela Direção-Geral da Saúde.
“Quero também enaltecer o trabalho e a concertação de esforços muito grande que houve entre as diversas entidades e que ajudou a marcar a diferença pela positiva”, enfatiza.
Mais a norte, em Idanha-a-Nova – o quarto município mais extenso de Portugal, com mais de 1.400 quilómetros quadrados (km2) de área, mas uma população que não chega aos 10.000 habitantes e que faz fronteira territorial com Espanha a leste e a sul -, o presidente da Câmara, Armindo Jacinto, sublinha que “felizmente” o concelho não regista, “até ao momento”, qualquer caso de covid-19.
“O mérito vai, em primeiro lugar, para o comportamento cívico dos nossos munícipes, que têm correspondido às orientações das autoridades de saúde e de segurança. Mas também tem sido fundamental o trabalho desenvolvido pelas Juntas e Uniões de Freguesia, em especial pelos presidentes e seu executivo, que têm sido incansáveis no apoio às suas comunidades, articulando ações e esforços para otimizar recursos e agilizar a implementação de medidas de prevenção ao coronavírus”, frisa Armindo Jacinto, em resposta à Lusa.
Se na Guarda o único dos 14 municípios que não tem casos reportados é o de Mêda, já em Viseu, Tarouca e São João da Pesqueira, dois dos 24 concelhos e ambos no norte no distrito, mantêm-se sem qualquer caso de covid-19, segundo informação prestada pelas duas autarquias na quarta-feira.
Em São João da Pesqueira, o município atuou preventivamente, ainda antes de o Governo ter declarado o Estado de Emergência.
“Começámos logo por encerrar todos os serviços e atividades que implicavam o contacto entre pessoas, dispensando pessoal para casa em teletrabalho, revezando equipas, etc. Começámos a desinfeção das ruas, adquirimos grandes quantidades de equipamentos de proteção individual que distribuímos em larga escala pelas IPSS, bombeiros, GNR e até nos serviços de saúde locais”, explica o presidente da Câmara, Manuel Cordeiro.
Há mais de dois meses, em 23 de março, foi acionado o Plano de Emergência Municipal, no qual foram identificadas e definidas medidas que São João da Pesqueira considerou “essenciais ao sucesso do combate” contra o novo coronavírus.
“E, mais importante, comprometendo os restantes elementos da Proteção Civil num acordo entre todos de agirmos em equipa”, acrescenta Manuel Cordeiro, que destaca também, entre outras medidas, “a grande sensibilização à população para a adoção de comportamentos responsáveis”.
“Todo este árduo trabalho acabou por resultar e por criar nas pessoas uma ideia de que o problema era mais sério do que inicialmente parecia ser, criando a ideia global de que tínhamos que nos defender uns aos outros, o que aconteceu”, enfatiza o autarca.
Na Pampilhosa da Serra, também não há infeções por covid-19, depois de apenas um caso positivo registado no início de abril, o de uma jovem de 21 anos residente em Coimbra, onde é estagiária de enfermagem numa instituição, e que visitou a família nessa altura.
Na quarta-feira, este município do distrito de Coimbra com 4.500 habitantes residentes na vila e em cerca de uma centena de povoações dispersas por uma área montanhosa que ronda os 400 km2 – a população passou para 9.000 em dois meses com o regresso de muitas famílias -, continuava sem qualquer infetado, situação que deixa satisfeito o presidente da Câmara Municipal, José Brito.
“Este resultado deve-se muito ao comportamento das pessoas neste período difícil”, disse José Brito à agência Lusa.
Na sua opinião, a autarquia “fez o que devia e que os outros municípios fizeram também” para travar a propagação do novo coronavírus, refere o autarca.
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