Opinião

Dependência digital

Notícias de Coimbra | 3 meses atrás em 15-06-2024

A tecnologia roubou-nos o tempo livre para a contemplação das coisas que um dia fizeram sentido. Coisas simples, tangíveis como apanhar uma fruta no pé, ler um livro ou dialogar. Os diálogos de agora assemelham-se a silêncio, desliza-se as pontas dos dedos num ecrã de pequenas polegadas e no fim parece que estivemos a conversar uma tarde inteira na soleira das portas. O vício digital tem sido estudado entre crianças, jovens e adultos, e os resultados são alarmantes.

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Clicar parece um gesto inócuo, mas os danos a curto e a longo prazo são a prova de que é preciso refletir e agir. Infelizmente, a cultura, o prazer, a vigilância, o anseio, a novidade, o preconceito e o puritanismo cabem num dispositivo eletrônico que, além de muitas funções, também, faz ligações telefónicas.

A vida está embutida numa esfera incontrolável de compulsões e idealizações irreais, e não espanta se estamos formatados para acreditar que o controle sobre determinadas coisas ainda funciona. A Inteligência Artificial (I.A.) seduz, alimenta a curiosidade, é tomada como uma experiência fascinante sobre o que desconhecemos. Mesmo que não haja magia, a I. A. Faz com que o homem continue a querer navegar.

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Tem esse poder de nos fazer acreditar que a Índia e o Brasil ainda podem ser descobertos. A maioria das pessoas está rendida a esse mundo novo que cabe na palma da mão. O “mundo” que levamos para a casa de banho, à mesa nas refeições, nas salas de aula e para a cama. O poder anónimo da crueldade foi disseminado com a internet e os que se mantêm à margem são poucos, diante do flagelo deste vício.

As próprias máquinas monitorizam o tempo em que um usuário fica diante do ecrã e sabe, também, o que é necessário para torna-lo cada vez mais dependente. Não é a máquina que está ao nosso serviço é o seu contrário, e faz lucrar as grandes empresas tecnológicas, que conseguem aos poucos e sem muitos esforços a alienação coletiva.

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Uma bomba relógio está nas nossas mãos e, muitas vezes, as faltas, os vazios e as solidões são os estados psicológicos que justificam os vícios. Ainda, não há bibliotecas com prateleiras de telemóveis, ainda não há amigos robôs que choram e vão ao médico, mas ainda há futuro que não sabemos se resiste ao progresso. O homem refém de qualquer desenvolvimento, não é livre e não pode pensar e questionar o livre arbítrio.

OPINIÃO | ANGEL MACHADO – JORNALISTA

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