Escolas

De volta à escola, cientista Inês mostra que a brincar também se aprende sobre o cancro

Notícias de Coimbra com Lusa | 9 horas atrás em 27-01-2025

A bióloga Inês Gomes regressou à sua escola primária quase 20 anos depois para mostrar que qualquer um pode ser cientista e que até a jogar à apanhada é possível aprender sobre o cancro.

“Quem é que sabe porque é que eu estou aqui?”, começa por perguntar à turma. Da primeira fila, ouve-se a resposta correta: “Para conhecermos uma cientista”.

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Inês Gomes, 27 anos, é investigadora na área da biologia molecular e está a tirar o doutoramento em Ciências da Saúde, na Universidade Nova de Lisboa, dedicando-se a estudar o cancro.

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Naquele dia, trocou o laboratório pela escola EB1 Nº 2 em Mem Martins (Sintra), onde fez o 1.º ciclo há quase 20 anos, a convite da Native Scientists, uma iniciativa que desde 2021 leva cientistas de regresso à escola para mostrarem o seu trabalho a alunos do 4.º ano.

“Só o facto de ter a oportunidade de vir falar com crianças da escola onde eu passei quatro anos encheu-me o coração e fiz as coisas com outro gosto”, contou a investigadora à Lusa, que queria mostrar aos alunos que começou no mesmo sítio e que, por isso, também eles podem vir a ser cientistas, se quiserem.

Na oficina de cerca de uma hora e meia, o maior desafio foi falar sobre o seu trabalho de forma divertida e depois de os fazer sujar as luvas numa atividade em que simulou a cultura de células, Inês Gomes levou os alunos para o recreio para um jogo da apanhada “um bocadinho diferente”.

“As células podem ser utilizadas para muitas coisas e eu utilizo-as para estudar uma doença, que é o cancro, que acontece quando as nossas células ficam más. E o que é que estas células más vão fazer? Só asneiras”, começou por explicar ainda dentro da sala de aula.

“Os cientistas podem tentar dar um super-poder às células imunes para tentar dar-lhes mais força para combaterem as células más”, continuou a investigadora, perante uma turma que a ouvia muito atenta, até ouvir as palavras mágicas: “Agora, cada um de vocês vai ser uma célula e vamos brincar à apanhada”.

No início do jogo, um aluno a quem foi atribuído o papel de “célula má” tentava apanhar as células boas que, uma a uma, transformavam-se, simbolizando o progresso da doença, mas numa segunda fase entraram em jogo as células imunes, fortalecidas pelo toque da cientista.

“É uma doença muito complexa e o maior desafio foi tentar não passar uma imagem muito negativa. Não queria que saíssem daqui com o peso de saber o que a doença é, tristes e desmotivados”, contava à Lusa. No final, a ciência tinha ajudado a curar aquele cancro.

O objetivo de Inês foi bem conseguido e o jogo da apanhada foi a atividade favorita da turma, mesmo daqueles que já tiveram algum contacto com o cancro através de familiares, como Alexa, que se divertiu a aprender como se pode tratar a doença que o avô teve.

“Eu tenho duas opções. Gostava de trabalhar com animais ou ser como a Inês”, disse a aluna de 10 anos, que saiu da atividade com mais vontade de ser cientista, à semelhança de Sofia e Lourenço, curiosos natos – descrevem-se – que também gostaram de saber que a investigadora estudou na mesma escola.

“Ouvindo experiências de vida de outras pessoas que também passaram por esta escola, acabam por sentir um apoio e um incentivo para continuar a trabalhar e ultrapassar as suas dificuldades, porque também elas podem um dia brilhar tanto como aqueles que já estão a brilhar”, sublinhou a professora, Sónia Soares.

Olhando para trás, também Inês Gomes considera que o contacto entre os mais novos e os cientistas é muito importante para desmistificar o seu trabalho, sobretudo quando muitas vezes são representados nos desenhos animados como os maus da fita.

“Na altura em que andei na escola primária não tive contacto com cientista nenhum. Não fazia ideia do que era a ciência e trazer este tipo de iniciativas é muito importante, porque há tanta coisa no nosso dia-a-dia que sem a ciência não existia, e os miúdos não têm noção disso”, refere, recordando que só a partir do ensino secundário é que decidiu seguir este percurso.

Em 2021, o projeto começou com a colaboração de 15 investigadores e este ano conta com a participação de 100. O objetivo, explicou Joana Bordalo, uma das co-fundadoras, é alargar as oficinas “para que nenhum aluno termine o 4.º ano sem ter conhecido um cientista.

Para já, a Native Scientists vai sobretudo às escolas das zonas rurais e mais isoladas geograficamente, e em zonas urbanas de intervenção prioritária.

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