Saúde

Dados do cancro do pulmão mostram melhores resultados dos tratamentos

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 anos atrás em 16-12-2022

Os novos casos de cancro do pulmão aumentaram entre 2018 e 2020, mas a mortalidade estabilizou, evidenciando, segundo o Observatório Nacional das Doenças Respiratórias (ONDR), melhores resultados nos tratamentos.

Segundo o 15.º relatório do ONDR, que congrega os principais indicadores da saúde respiratória em Portugal, a mortalidade por cancro do pulmão tem-se mantido estável – com uma pequena variação nos últimos três anos observados: 2018 (4.621), 2019 (4.703)e 2020 (4.609). Já os diagnósticos mostram uma tendência crescente, subindo mais de 15% de 2018 (4.424) para 2019 (5.208).

O ONDR diz que estes valores provam “melhores resultados terapêuticos do cancro do pulmão”, permitindo verificar “o aumento da esperança de vida decorrente do uso das terapêuticas alvo e da imunoterapia”.

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Por outro lado, destaca o documento hoje divulgado, há uma “grande variabilidade” nos valores de mortalidade por região, “particularmente evidente entre zonas próximas, como acontece entre a Zona Metropolitana do Porto e Trás-os-Montes”, que o relatório explica com uma menor taxa de diagnósticos por causa da dificuldade de acesso.

O relatório explora também os hábitos tabágicos – o consumo de tabaco continua a ser a principal causa de cancro evitável (responsável por 27% de todos os cancros) -, mostrando que as taxas diminuíram para 17% em 2019 (era 20% em 2014), baixando em ambos os sexos.

“São boas notícias e as suas consequências na saúde respiratória poderão ser uma realidade no futuro mais ou menos próximo, conforme a área patológica a estudar”, refere o observatório.

Contudo, os responsáveis expressam preocupação pelas taxas nas faixas etárias mais jovens (15:24 anos), que ultrapassam os 15%.

“Apesar de tudo, são preocupantes as taxas de fumadores em grupos etários mais baixos”, consideram, sublinhando: “É preocupante o facto de cerca de 50% dos fumadores terem uma carga tabágica diária superior a 10 cigarros”.

Reconhecendo que há muito trabalho a fazer para “interromper a epidemia tabágica”, o ONDR considera urgente “o aumento significativo do preço do tabaco e a elaboração de uma lei antitabaco menos permissiva e mais efetiva”.

De uma forma geral, o relatório aponta para uma “ligeira diminuição da mortalidade” nas doenças respiratórias (de 11.317 óbitos em 2014 para 11.243 em 2020) , uma situação para a qual podem ter contribuído “a diminuição de diagnósticos, por transferência da causa de morte, ou ainda por prevenção [no caso da pneumonia] e tratamento mais eficiente [cancro do pulmão]”, indica.

Aponta, mais uma vez, para o subdiagnóstico da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), cujo diagnóstico correto se faz com a espirometria. Segundo os dados divulgados, mais de 50% dos doentes referenciados com DPOC nunca fizeram este exame, que “tem lista de espera e, simplesmente, não está disponível”.

Segundo os dados divulgados, a DPOC foi responsável por 2.656 óbitos em 2020.

No que se refere à tuberculose, num artigo publicado neste relatório da autoria de Inês Ladeira, do Centro de Referência Regional para a Tuberculose Multirresistente CDP de Vila Nova de Gaia, é recordada a tendência decrescente da doença nos últimos cinco anos.

A este nível, a responsável considera que “o rastreio e tratamento preventivo de grupos vulneráveis é uma estratégia fulcral para evitar o aparecimento de novos casos de tuberculose em contexto de baixa incidência”.

Em 2020, foram notificados 1.465 casos Portugal, correspondendo a uma taxa de incidência de 13,2/100 mil habitantes.

Dos casos notificados em 2020, 1.357 corresponderam a novos casos e 108 a retratamentos. A maioria dos casos continua a ocorrer no sexo masculino (65%) e as regiões de maior incidência continuam a ser Lisboa e Vale do Tejo e Norte (18,0 e 15,2 casos por 100 mil habitantes, respetivamente).

Apesar da redução da incidência de tuberculose e da proporção de casos positivos no exame direto das amostras respiratórias, a demora mediana entre o início de sintomas e o diagnóstico tem aumentado (80 dias em 2020 e 61 dias em 2008). Nos grupos mais vulneráveis esta demora foi superior, atingindo um máximo de 102 dias na população sem-abrigo.

“Apesar de não ser negligenciável o atraso no recurso aos serviços de saúde resultante da pressão exercida pela pandemia covid, estes dados reforçam a necessidade de apostar na literacia em tuberculose, quer na população, quer nos profissionais de saúde, bem como a importância de fortalecer a atuação integrada com a Sociedade Civil e as Organizações não-governamentais (ONG)”, refere o documento.

No artigo, a especialista considera ainda que o apoio às ONG e a promoção de protocolos de rastreio nas populações vulneráveis “são fundamentais para o diagnóstico precoce e sucesso terapêutico nestes grupos”.

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