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Da sensação de elasticidade quando se marcha sobre cadáveres na Cerca de São Bernardo
Em Janeiro, A Escola da Noite volta a apresentar no Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra, o seu mais recente espectáculo: “Da sensação de elasticidade quando se marcha sobre cadáveres”, de Matéi Visniec.
A acompanhar a nova temporada são apresentados mais três filmes que ajudam a conhecer melhor a cultura e a história recente da Roménia. O regresso das Flores de Livro e uma exposição especial de Delphim Miranda completam a programação do Teatro no primeiro mês de 2015.
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Depois do fim-de-semana da estreia, o mais novo espectáculo d’A Escola da Noite cumpre agora uma temporada de três semanas, entre 8 e 25 de Janeiro, de quinta a domingo. Escrita pelo dramaturgo romeno Matéi Visniec e nunca antes levada à cena, a peça tem como protagonista Sérgiu Penegaru, um escritor que se recusa a escrever poemas patrióticos e admira o surrealismo.
Na Roménia comunista do final da década de 50 do século XX, isso é suficiente para que entre na “lista negra”. As suas obras são proibidas e é preso em Sighet – a penitenciária que realmente existiu, por onde passaram e onde morreram dezenas de presos políticos nesse período. Como forma de resistir ao cárcere, Penegaru e os seus três companheiros de cela divertem-se a representar “A cantora careca”, de Eugène Ionesco.
A memória da realidade concreta que inspirou a escrita da peça (o próprio Visniec foi autor proibido pelo regime de Nicolae Ceausescu), mas também a oportunidade de reflectir sobre a forma como os processos de “lavagem cerebral” actuam na consciência dos indivíduos e condicionam a sua liberdade de pensamento, mesmo em sociedades democráticas e ditas “livres”, são duas motivações indissociáveis d’A Escola da Noite para a escolha deste texto, encenado por António Augusto Barros.
Como os autores que Visniec homenageia, e em particular Ionesco e o “teatro do absurdo”, a peça utiliza o humor para evidenciar a violência e o absurdo da própria realidade e mostra-nos como o riso e a arte podem ser formas activas de resistência e de luta pela liberdade.
Cinema romeno
A nova temporada do espectáculo em Coimbra é mais uma vez aproveitada pel’A Escola da Noite para mostrar um pouco da cultura e da história recente da Roménia. O ciclo conta com o apoio do Instituto Cultural Romeno e decorre ao longo de três terças-feiras. Inclui os documentários “Videogramas de uma revolução”, de Harun Farocki e Andrei Ujica (que retrata, através de imagens reais, os dias que levaram à destituição do casal Ceausescu, em 1989) e “Depois da revolução”, de Laurentiu Calciu, que aborda, também com imagens de manifestações, comícios e conferências de imprensa, o período que antecedeu as primeiras eleições pós-revolução, em Maio de 1990).
No último dia do ciclo será exibido o premiado filme “Francesca”, de Bobby Paunescu, um exemplo entre muitos da pujante e reconhecida cinematografia romena da última década. Realizado em 2009, o filme conta-nos a história de uma jovem educadora de infância que pensa em emigrar para Itália em busca de uma vida melhor. Entre o entusiasmo da mãe e as reservas do pai, Francesca decide mesmo partir, mas uma inusitada descoberta vem baralhar os seus planos. Os três filmes passam no bar do TCSB às 21h30 e têm entrada gratuita.
Más Caras e Flores de Livro
O mês do TCSB não se esgota, no entanto, no mais recente espectáculo da sua companhia residente. Para além do reínicio das sessões regulares de “Flores de Livro – leitura de contos para a infância” (sempre no último sábado de cada mês), assinala-se o regresso do cenógrafo, marionetista e artista plástico Delphim Miranda. Ao longo do mês, será gradualmente montada, com a cumplicidade activa de mais de uma dezena de personalidades por si convidadas, uma exposição de máscaras no bar do Teatro.
Nos dias 9, 16 e 23 de Janeiro, pelas 20h45, quatro a cinco convidados abrem as encomendas que Delphim lhes enviou por correio e penduram-nas nas paredes do Teatro, ao longo de um processo que terminará em Fevereiro, com a construção ao vivo da última máscara e a inauguração oficial da exposição.
Três meses, três espectáculos
A temporada de “Da sensação de elasticidade quando se marcha sobre cadáveres” abre um ciclo de três espectáculos próprios que A Escola da Noite vai apresentar ao longo do primeiro trimestre do ano, repondo produções estreadas em anos anteriores. Entre 6 e 8 de Fevereiro, volta “Auto dos Físicos”, de Gil Vicente, e entre 26 e 29 de Março regressa “Novas diretrizes em tempos de paz”, de Bosco Brasil.
Para quem estiver interessado em assistir aos três espectáculos existe um bilhete especial, com o preço único de 12 Euros, o que torna ainda mais atractiva esta oportunidade oferecida ao público de ver ou rever os mais recentes trabalhos da companhia.
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