Coimbra
Culto dos mortos é oportunidade para mulheres que produzem flores na Lousã
O culto dos mortos levou mulheres que no passado produziam sobretudo hortícolas, na serra da Lousã, a apostarem nas flores para honrar defuntos como oportunidade de negócio nesta época do ano.
Vale de Neira, Cova do Lobo (Lousã) e Espinho (Miranda do Corvo) são aldeias nas quais o cultivo de crisântemos e outras flores surgiu, nos últimos anos, como alternativa à produção de espécies alimentares.
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Conhecidas pelo afinco nas tarefas agrícolas, moradoras de Vale de Neira e lugares vizinhos cultivam as “flores dos mortos” com que abastecem fregueses da região.
Mas os mercados da Lousã e Miranda já tiveram melhores dias.
A proliferação de grandes superfícies comerciais, primeiro, e as atuais dificuldades económicas das famílias, têm levado as feiras tradicionais a perder a pujança do passado.
“Este ano está muito mau”, afirma à agência Lusa Glória Lopes, que estava a chegar a casa na quarta-feira, em Cova do Lobo, após ter passado horas a vender flores no mercado de Miranda, que não estava muito concorrido.
Há dez anos, Glória Lopes, que também produz espécies comestíveis, incrementou o cultivo de crisântemos e outras flores para homenagear defuntos.
A filha, Gena Lopes, tem um curso de floricultura e arranjos florais e foi a impulsionadora do projeto.
A jovem optou depois pela profissão de cabeleireira, mas os pais, desde sempre ligados à pequena agricultura tradicional, continuaram a criar flores e hortícolas numa estufa.
Nesta época, os crisântemos de diversas qualidades, especialmente com “palitos” brancos, rendem mais do que qualquer outro produto agrícola.
No Espinho, Miranda do Corvo, a engenheira Sandra Mendes, licenciada pela Escola Superior Agrária de Coimbra, vende flores para campas, na própria exploração.
“Agora, o que está a dar são os crisântemos, mas também tenho horticultura”, afirma à Lusa, enquanto atende uma cliente que vai comprar flores.
Com ajuda dos pais, Sandra comercializa também os produtos nos mercados de Miranda e da Lousã.
“Já tenho pouca coisa para vender”, revela, por seu turno, Glória Lopes, que pede seis euros por um ramo com dez pés de crisântemos de “palitos”.
Em agosto e setembro, o negócio assenta especialmente nos alfobres de couve troncha para plantar.
“Há pouca gente nos mercados agora”, lamenta a agricultora.
Este ano, plantou menos “flores de cemitério” do que em 2012, por prever uma evolução negativa do negócio.
“Já se notou hoje na feira de Miranda. Estou também com medo do feriado”, refere, aludindo à extinção da celebração religiosa do Dia de Todos os Santos (01 de novembro), este ano pela primeira vez, o que poderá prejudicar o negócio.
Em Cova do Lobo, Glória Lopes vende um ramo com dez pés por sete euros.
Já em Vale de Neira, Maria Augusta Fernandes entrega 12 pés por cinco euros.
Ramos mais modestos podem custar três ou quatro euros.
Com ajuda da filha Sónia, prepara de véspera os ramos para venda.
Cultiva as flores com ajuda do marido, José Antunes, numa estufa onde também produz cebolo e couves.
Hoje, ao romper do dia, a agricultora deverá ter chegado à porta do cemitério da Lousã, para assegurar um bom local de venda.
“Quero lá estar antes das seis horas”, planeia Maria Augusta.
Hoje e sexta-feira são os melhores dias para um negócio que o milenar culto dos mortos proporciona mesmo em tempo de crise.
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