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OPINIÃO | PEDRO SANTOS | 11 horas atrás em 25-01-2025

Oh, como é bonita a convergência entre o autoproclamado salvador da igualmente autoproclamada maior nação do mundo e os magnatas da tecnologia! Representando aparentemente forças opostas – tradição e valores tradicionais vs. inovação e mudança – são, na práticas, as duas faces da mesma moeda: o fascismo tecnológico. Um regime onde autoritarismo e ultraliberalismo coexistem, com um marketing tão poderoso e dominador, que transforma a opressão em promessa de (falsa) prosperidade para todos.

Em nome da disrupção, este poder explora lacunas legais, prescinde de mecanismos democráticos e concentra riqueza e influência numa escala sem precedentes. E os uniformes e os desfiles militares que conhecíamos de fascismos antigos são substituídos por algoritmos que moldam opiniões, comportamentos e, em último caso, eleições.

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Tal como a recente campanha presidencial norte-americana mostrou à saciedade, os magnatas da tecnologia procuram cada vez mais assumir-se como super-heróis de uma narrativa que apela à meritocracia e ao progresso, no que não é mais do que uma cortina de fumo para esconder a forma como as suas empresas concentram riqueza de forma absolutamente pornográfica. E a capa destes supostos super-heróis encobre a promoção de discursos de ódio, exclusão e manipulação em massa.

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Mas como chegámos aqui? Durante décadas, aceitámos o mantra de que os mercados seriam sempre racionais e autorregulados, promovemos a ideia de que a economia devia estar acima da política, permitimos que o capital colonizasse quase todos os aspetos das nossas vidas, desde a educação à cultura, do jornalismo às relações sociais. E nessa cegueira ultraliberal, permitimo-nos mergulhar num culto tecnológico que produzia milagres – curioso que só se fale de utopias noutros quadrantes, quando a história do capitalismo está cheia de episódios em que ele falhou a quase todos.

O fascismo tecnológico é o culminar lógico de um sistema que nunca encontrou limites para a sua expansão e que parece, aliás, cada vez mais determinado em não parar de crescer. Agora, com líderes e empresas que personificam abertamente esta ideologia, vivemos num mundo onde a democracia parece mais frágil do que nunca. Com a agravante de que falta sex appeal ao discurso que tenta desmontar este mecanismo triturador da solidariedade, sobretudo quando comparado com o (estranho) glamour de cybertrucks e starships.

Num mundo em que não faltam processos que estão continuamente a causar problemas, a solução não pode ser pressionar Crt+Hel+Del.

OPINIÃO | PEDRO SANTOS – ESPECIALISTA EM COMUNICAÇÃO

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