Universidade

Criança infetada com variante rara do vírus de SIDA associado ao aparecimento tardio de doença

Notícias de Coimbra | 10 anos atrás em 25-11-2014
Graça Rocha, Teresa Gonçalves e Rui Soares Ao dispor,

Graça Rocha, Teresa Gonçalves e Rui Soares

Uma equipa de investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) e da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) descreveu, pela primeira vez numa criança, uma variante do vírus da imunodeficiência humana (HIV) associada ao surgimento tardio de SIDA.

O estudo, já publicado no Journal of Medical Microbiology Case Reports da Society for General Microbiology, descreve o caso clínico de uma criança de 5 anos de idade que, apesar de estar infetada por HIV, manteve-se saudável, registando apenas as patologias típicas da idade.

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Ao dar entrada no hospital para ser sujeita a uma pequena cirurgia, asanálises de rotina revelaram alterações das provas de coagulação e marcadores hepáticos. As análises identificaram ainda a ausência de linfócitos CD4+ (glóbulos brancos responsáveis pela defesa do organismo contra infeções) e um grau muito elevado de infeção pelo vírus HIV, apresentando mais de um milhão de vírus por mililitro de sangue (1 073 899 cópias/ml de sangue).

Através de um estudo detalhado do gene do HIV que codifica a proteína Vpr (responsável por regular o nível de virulência), os investigadores descobriram argumentos fortes para impedir o vírus de se manifestar durante tanto tempo: «detetámos a presença de duas mutações associadas à proteína Vpr do HIV1, R77Q e Q3R, descritas como estando envolvidas no aparecimento tardio dos primeiros sintomas da Síndroma da Imunodeficiência Adquirida (SIDA)», explica Teresa Gonçalves, coordenadora do estudo.

A descoberta destas duas mutações é muito relevante para «o prognóstico da doença. Idealmente, a inclusão do estudo destas mutações na rotina clínica permitiria prever a evolução do vírus e evitar, por exemplo, a administração de medicação antirretrovírica numa fase precoce do diagnóstico. Além de proteger o doente, uma vez que os tratamentos podem causar efeitos secundários indesejáveis e no caso das crianças afetam o normal crescimento, possibilitaria reduzir custos aos serviços de saúde», sublinha a também docente da FMUC.

O estudo evidenciou ainda que a criança foi infetada por transmissão vertical, ou seja, a partir da mãe, também ela assintomática, «durante a gravidez, no parto ou no período de aleitamento materno. Trata-se de um caso clínico excecional porque, embora a criança frequente um infantário, nunca desenvolveu patologias infecciosas oportunistas e nunca foram registadas reações adversas à vacinação efetuada de acordo com o Plano Nacional de Vacinação», conclui Teresa Gonçalves.

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