Maria de Jesus Nunes, de 55 anos, viu a sua vida transformada. Tudo por causa de um acidente aparentemente simples, mas que desencadeou uma cadeia de acontecimentos trágicos.
A costureira de profissão, que mudou de vida para se tornar empregada de limpeza, nunca imaginou que um simples escorregão numa uva num supermercado Lidl fosse mudar a sua história para sempre.
No dia 30 de março de 2023, Maria de Jesus entrou naquele supermercado em Paredes para comprar pão para o almoço, algo que fazia habitualmente. No entanto, ao passar pela secção de frutas, a sua atenção foi atraída por uma senhora que desviava algo com o pé. Era uma uva. Ao escorregar na fruta, Maria caiu e perdeu os sentidos, acordando já no hospital. O diagnóstico imediato era de lesões que a incapacitaram para o trabalho, levando-a a seguir um processo de indemnização com a seguradora do supermercado, que se comprometeu a cobrir as despesas.
PUBLICIDADE
Durante meses, a situação parecia sob controlo. A seguradora do Lidl pagava-lhe a indemnização e, com isso, Maria de Jesus não se preocupava com o lado financeiro. No entanto, as coisas tomaram um rumo inesperado quando, em novembro de 2023, Maria foi diagnosticada com leucemia grave. A doença, que não estava relacionada com o acidente, levou-a a suspender o seguro e a tentar acionar o subsídio de doença através da Segurança Social.
Foi aqui que o verdadeiro pesadelo começou. Apesar de décadas de contribuições, Maria de Jesus descobriu que, devido ao fato de ter estado coberta pelo seguro do Lidl, não tinha direito ao subsídio de doença. A explicação da Segurança Social foi clara: como não houve contribuições durante os meses em que esteve em indemnização, não havia registo para justificar o pagamento da baixa, dá conta a CNN.
O dilema é ainda mais complexo devido ao facto de a seguradora não ter emitido as declarações necessárias à Segurança Social, criando um impasse que a deixa sem apoio financeiro. Sem receber do Estado e sem conseguir recuperar as contribuições perdidas, a mulher vive agora dependente da ajuda de amigos e familiares, após mais de um ano sem ver um único euro entrar na sua conta bancária.
A advogada Rita Garcia Pereira explica que, embora o caso pareça absurdo, a lei permite esta situação devido à falha nas contribuições durante o período em que Maria foi assistida pelo seguro. Para evitar situações semelhantes, a especialista aconselha que, em casos de acidentes de trabalho ou incapacidades, as pessoas peçam sempre baixa médica para garantir a proteção legal.
Maria de Jesus não pede muito: quer apenas o que lhe é devido, que a seguradora e a Segurança Social resolvam o impasse e lhe devolvam a dignidade que lhe foi retirada. Mas, infelizmente, a sua vida foi destruída por um simples acidente com uma uva, uma tragédia que poderia ter sido evitada se as peças do sistema se alinhassem.
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE