Crimes
Comissão receia que abusos sexuais possam ter continuado na Igreja
O coordenador da Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa disse hoje que muitos dos acusados podem continuar a abusar e que há um setor da Igreja que quer manter os segredos.
Na Grande Entrevista, hoje à RTP, Pedro Strecht revelou que “uma das grandes inquietações” da Comissão Independente (CI) é “saber se os abusos não têm continuado”, se não terá havido repetições, a partir de casos passados.
Segundo o responsável, muitos dos acusados nos testemunhos continuam no ativo e podem continuar a abusar.
O pedopsiquiatra reconheceu também, a propósito de vozes críticas que se têm levantado dentro da igreja à atuação da comissão, que há quem tenha interesse em manter um véu sobre os casos de abuso sexual.
“Percebemos bem que há um setor da Igreja Católica que quer manter os segredos”, afirmou.
Pedro Strecht afirmou que houve muitas centenas de casos de abusos sexuais de crianças em Portugal e que “é muito claro que houve encobrimento da hierarquia católica em Portugal”, uma situação que começou a mudar, graças ao Papa Francisco e à sua política de “tolerância zero”, que “foi muito importante nesse processo.
Outra revelação que o responsável fez é que “tudo indica que tem havido deslocações dos abusos de dentro para fora da Igreja, situações reportadas a grupos de jovens, de escuteiros, escolas”.
Fazendo um balanço dos testemunhos recebidos até ao momento, o coordenador da CI revelou que “há 400 queixas validadas”, mas que a comissão também recebeu alguns inquéritos que não validou, embora sejam uma minoria.
De entre os crimes sexuais validados, 60% são relativos ao sexo masculino e 40% ao sexo feminino, acrescentou.
Toda esta listagem é enviada para a Conferência Episcopal Portuguesa e, até ao momento, já foram encaminhados 17 casos para o Ministério Público.
Explicando a razão por que de entre tantos casos são tão poucos os referenciados ao Ministério Público, Pedro Strecht explicou que muitas pessoas contactam em anonimato, “nomeiam o abusador, não se nomeiam a elas próprias”, e que noutros casos as queixas já prescreveram.
Na entrevista, o responsável garantiu ainda que o trabalho desta comissão independente criada para investigar abusos sexuais na Igreja Católica portuguesa estará concluído até 31 de janeiro.
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