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Comandante dos bombeiros de Pedrógão pediu “várias vezes mais meios”
O comandante dos Bombeiros Voluntários de Figueiró dos Vinhos aquando do incêndio de Pedrógão Grande disse hoje em tribunal que o seu colega daquele concelho, Augusto Arnaut, pediu várias vezes mais meios para o combate ao fogo.
Paulo Nogueira afirmou ao coletivo de juízes do Tribunal de Leiria, onde hoje depôs no julgamento para apurar eventuais responsabilidades criminais nos incêndios de Pedrógão Grande, em junho de 2017, que foi chamado pelo Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Leiria para um incêndio em Moninhos, Figueiró dos Vinhos, pelas 15:00.
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“Tinha solicitado meios complementares, mas quando percebi que não necessitava, porque estava a entrar em fase de rescaldo, sugeri ao CDOS que os enviasse para Pedrógão Grande, pois ouvi por várias vezes, pelo rádio, o comandante [Augusto] Arnaut e pedir mais meios”, contou.
Perante os “pedidos intensos do comandante de Pedrógão Grande” e já com o fogo de Moninhos em rescaldo, Paulo Nogueira fez “avançar as equipas que tinha lá, à exceção de Coimbra, que ficou a fazer o rescaldo”.
“Quando chegámos ao parque industrial de Figueiró dos Vinhos o tempo mudou de repente. Seriam cerca das 19:45. Vi uma tempestade, com muitas telhas e caixotes do lixo a voar pelo ar. Algo nunca visto antes. Disse às equipas para esperarem que eu ia ao IC8 [itinerário complementar 8] ver o que se passava”, continuou.
O ex-comandante disse ver “muita gente na estrada” e pouca visibilidade, tendo até dificuldade em regressar. “Não dava para avançar, então combatemos o incêndio a partir do meu concelho.”
Paulo Nogueira salientou que os meios que estavam em Moninhos “nunca chegaram a Pedrógão Grande”, tendo um dos carros de Castanheira de Pera tido um acidente.
Confrontado por Filomena Girão, advogada do comandante de Pedrógão Grande, sobre se os meios eram suficientes e se era possível ter realizado a evacuação das casas em segurança, a testemunha afirmou que não.
“Quando solicitamos os meios possíveis é evidente que estamos a ver a perspetiva de evolução do incêndio a crescer e precisamos de mais meios para o combater”, insistiu.
José Fernandes, técnico da ambulância de Suporte de Imediato de Vida e segundo comandante de Castanheira de Pera, admitiu que se “houvesse mais meios no início do incêndio, o desfecho poderia ter sido diferente”.
O bombeiro apontou ainda a “dificuldade em chegar aos locais”, porque “em alguns já tinha passado o incêndio e havia fumo e resíduos do fogo”, constatando que se tivesse sido possível avisar as pessoas para não saírem de casa, muitas mortes poderiam ter sido evitadas.
Em causa neste julgamento estão crimes de homicídio por negligência e ofensa à integridade física por negligência, alguns dos quais graves. No processo, o Ministério Público contabilizou 63 mortos e 44 feridos quiseram procedimento criminal.
Os arguidos são o comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande, então responsável pelas operações de socorro, dois funcionários da antiga EDP Distribuição (atual E-REDES) e três da Ascendi (que tem a subconcessão rodoviária Pinhal Interior), e os ex-presidentes da Câmara de Castanheira de Pera e de Pedrógão Grande, Fernando Lopes e Valdemar Alves, respetivamente.
O presidente da Câmara de Figueiró dos Vinhos, Jorge Abreu, também foi acusado.
O antigo vice-presidente da Câmara de Pedrógão Grande José Graça e a então responsável pelo Gabinete Florestal deste município, Margarida Gonçalves, estão igualmente entre os arguidos.
Aos funcionários das empresas, autarcas e ex-autarcas, assim como à responsável pelo Gabinete Técnico Florestal, são atribuídas responsabilidades pela omissão dos “procedimentos elementares necessários à criação/manutenção da faixa de gestão de combustível”, quer na linha de média tensão Lousã-Pedrógão, onde ocorreram duas descargas elétricas que desencadearam os incêndios, quer em estradas, de acordo com o Ministério Público.
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