Restaurantes

“Coma mais um bocado”. A “chantagem” dos restaurantes que pode acabar mal

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 4 dias atrás em 27-03-2025

Imagem: depositphotos.com

Quem nunca passou por isto? Está num restaurante e o empregado de mesa tenta, de forma mais ou menos subtil, convencê-lo a comer mais. Pode ser com um comentário brincalhão—”Não estava bom? Estava, não estava…?” ou com uma observação aparentemente inocente: “Olhe que vai ficar com fome” ou “Não vamos deitar isto para o lixo”.

Helen Santiago, jornalista do El País, analisou recentemente o tema, recordando um episódio que classifica como “uma história triste” passado num restaurante em Madrid. Helen, que tem por hábito comer pouco, viu-se pressionada pelo empregado a pedir mais comida ao ponto de se sentir desconfortável com a insistência de que sairia do restaurante ainda com fome.

PUBLICIDADE

publicidade

A situação repete-se noutros contextos. Quem nunca ouviu perguntas como “Está grávida ou a tomar antibióticos?” ao recusar vinho? Ou o clássico “Pode permitir um doce a si mesma, um dia não faz mal” ao dizer não à sobremesa? Em Espanha, há mesmo relatos de empregados que chegam a segurar o braço do cliente para avisar que a cozinha está prestes a fechar quase como se fosse a última oportunidade de comer naquele dia.

PUBLICIDADE

Perante este tipo de pressão, Helen Santiago deixa um conselho: peça menos do que os seus olhos acham que precisa. Na verdade, talvez não precise de comer tanto.

A pressão social, aliada à insistência de alguns empregados, pode fazer com que os clientes duvidem das próprias escolhas. Mas há muitas razões para alguém comer pouco—pode ser por questões de saúde, restrições financeiras, problemas digestivos, dieta ou simplesmente porque não tem fome. No entanto, estas razões raramente parecem importar.

A nutricionista Stefy Fernández reforça esta ideia: “Vivemos num ambiente que nos afasta dos nossos sinais naturais de fome e saciedade. A cultura das dietas, a culpa associada a certos alimentos e a pressão social levam-nos, muitas vezes, a comer por razões externas, e não porque o nosso corpo realmente precisa”.

Para a especialista, os restaurantes deveriam repensar a abordagem. Em vez de insistirem, poderiam oferecer alternativas, como porções mais pequenas ou a opção de pedir mais comida mais tarde, sem qualquer problema.

O ideal seria que os empregados de mesa questionassem os clientes sem julgamentos e compreendessem que nem toda a gente quer (ou precisa) de comer muito. No entanto, muitas vezes, esta mentalidade vem de cima—dos próprios proprietários dos restaurantes.

Helen Santiago deixa um recado: “Caro proprietário, lamento informar-te, mas vender mais um prato não te vai tornar milionário. Se insistires demasiado, corres o risco de receber uma má avaliação no Google. Mas se fores empático e entenderes que cada cliente é único, a experiência será mais agradável e, provavelmente, voltaremos. Todos ganham. Não parece assim tão difícil.”

PUBLICIDADE

publicidade

PUBLICIDADE