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Coleção de Arte do Estado “vai além das aquisições” É para fazer circular!
O curador da Coleção de Arte Contemporânea do Estado (CACE), David Santos, defendeu hoje que o acervo de 1.400 peças “vai além das aquisições, e é para fazer circular pelo país, para que seja valorizado, usufruído e reconhecido”.
Na primeira entrevista pública desde que assumiu funções, o historiador de arte e curador sublinhou a importância da renovação e revitalização desta coleção, anteriormente conhecida por Coleção de Arte da Secretaria de Estado da Cultura (“Coleção SEC”), criada nos anos de 1970, e cujas aquisições estiveram paradas durante duas décadas.
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A CACE, com gestão, inventário e circulação à responsabilidade da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) desde 2017, depois de ter estado na alçada da Direção-Geral das Artes, tem agora um curador, nomeado para os próximos três anos, que irá criar um plano para o seu estudo, divulgação e circulação “de uma forma descentralizada”.
“A coleção não deve ser apenas uma lista de aquisições, mas ter um programa de circulação da arte à escala do território nacional, e dar a conhecer aos cidadãos portugueses o resultado destas resoluções das comissões, a qualidade artística e o crescimento da coleção, incluindo numa plataforma digital”, indicou o curador, que foi subdiretor da DGPC entre 2016 e 2020.
Na sua génese, em 1976, teve como objetivo converter-se numa coleção “representativa da produção artística nacional, como um valioso acervo patrimonial do Estado, para apoiar a produção contemporânea, e elevar a expressão de representação nacional de órgãos de soberania, embaixadas, outros edifícios públicos de relevo para a representação portuguesa”, recordou David Santos, em entrevista à agência Lusa.
Visava, sobretudo com as aquisições aos artistas nacionais, “apoiar e animar” a arte contemporânea, e “fornecer peças de qualidade às representações políticas portuguesas no estrangeiro”.
A CACE inclui obras de artistas portugueses como Helena Almeida, Abel Manta, Noronha da Costa, Júlio Pomar, Julião Sarmento, Ilda David, José de Guimarães, mas também de artistas estrangeiros como Andy Warhol, Robert Mapplethorpe e Sebastião Salgado.
Depois de uma paralisação de duas décadas, o programa de aquisições do Estado foi retomado, e adquiridas 21 obras de arte em 2019, com 300 mil euros, no ano seguinte, com um orçamento de 500 mil euros, mais 65 foram compradas, e, para este ano, foi anunciado pelo Governo um investimento de 650 mil euros, cuja escolha já está feita, disse o curador à Lusa, e será anunciada pela ministra da Cultura, Graça Fonseca.
David Santos defende que “não deve ser apenas feito um esforço financeiro para enriquecer este acervo principal, mas que ele seja visível, a uma escala de vários territórios do país, em diversas cidades, e não apenas no circuito habitual de Lisboa e Porto”, embora a coleção já esteja presente em Aveiro, e desde o ano passado em Coimbra, no novo centro de arte contemporânea.
Como curador da CACE, revelou que já apresentou à ministra da Cultura o esboço do plano de programação para uma estratégia plurianual de três anos em torno do estudo, divulgação e circulação da coleção, que tem por base “um amplo programa de exposições em várias localidades do país que manifestem interesse em recebê-la, em articulação com as delegações regionais de cultura, municípios e outras entidades”.
“Vou convidar muitos curadores independentes, de instituições, e de outros circuitos institucionais, a darem a sua visão e projetarem um olhar sobre a qualidade desta coleção, e desenhar várias exposições temporárias”, revelou David Santos, acrescentando que, paralelamente às mostras, haverá um programa de conferências, atividades paralelas, ao nível da mediação cultural, serviços educativos, com especialistas de várias áreas a dar testemunho da importância de uma certa obra ou artista, em debates e conversas.
A meta do curador é “criar as condições para que esta coleção tenha mais visibilidade e reconhecimento” no país, vincou, acrescentando que o plano de programação vai ser anunciado em pormenor “provavelmente na ‘rentrée'” cultural deste ano.
A equipa dirigida por David Santos irá monitorizar a circulação da coleção inclusivamente no estrangeiro, para exposições fora do país.
Uma seleção está desde janeiro deste ano em Bruxelas, no Parlamento Europeu, na mostra “Liberdade e a Europa – Uma Construção de todos”, ali patente até 15 de junho, no quadro do programa cultural da Presidência Portuguesa da União Europeia.
“Cabe-nos a nós coordenar e acompanhar as obras para que não se percam e não se degradem”, apontou, sobre uma das missões principais da equipa que coordena.
Com a retoma do programa de aquisições de arte contemporânea, após um protesto protagonizado em 2018 por 200 artistas junto do primeiro-ministro, António Costa, a CACE foi alvo de uma gradual mudança de imagem, “que passou pela sua designação, rejuvenescimento e reabilitação, um novo nome, além de uma nova imagem, que será anunciada em breve”.
“Estamos a preencher lacunas na história da coleção e a comprar obras de artistas mais jovens, dando um sinal de que há uma atenção às novas gerações e ao sistema de arte contemporânea em Portugal, mesmo em tempo de dificuldades provocadas pela pandemia”, comentou.
Apesar da coleção estar centralizada na DGPC, “pode ser usufruída por várias instituições ou museus do país, e não será exclusivo de alguns, terá de ser útil”, sustentou o curador.
David Santos – que foi diretor do Museu do Neo-Realismo (2007-2013) e diretor do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado (2013-2015) – defende que “a atenção à arte contemporânea não deve ser circunstancial, mas obedecer a um plano continuado e com futuro, olhando para o passado, mas também para o nosso tempo, e promover de modo condigno a produção artística atual”.
A circulação das obras da CACE estará também articulada com a atividade da recentemente criada Rede Portuguesa de Arte Contemporânea, sob gestão da Direção-geral das Artes, que o Governo pretende fazer funcionar como uma plataforma para apoiar a interação entre as instituições de arte contemporânea do país, ligando 120 equipamentos já mapeados.
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