Coimbra
Coimbra: “Quando o vi, urinei-me toda com medo”. O horror de quem foi vítima de abuso na Casa de Infância Elísio de Moura
Imagem: Pablo Sánchez
Olinda Soares, com cerca de 60 anos, é uma das vítimas de abuso sexual do padre Sebastião Cruz, na Casa de Infância Elísio de Moura, em Coimbra.
Numa entrevista dada à SIC, a 26 de setembro, Olinda Soares relembra o horror que viveu.
O espaço foi gerido cerca de 80 anos pelas freiras católicas do Amor de Deus. Olinda nasceu em Barcelos, nos tempos em que a pobreza era bem visível nas ruas. Em 1966, quando tinha 7 anos, a mãe enviou-a para Coimbra, entregando-a à guarda das Irmãs do Amor de Deus, que geriam esta casa.
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“Para mim era a primeira vez que eu estava em lençóis. Lençóis branquinhos que tinha uma cama, uma cama de ferro, uma cama para mim era muito bonita e eu não dormia numa cama bonita. Venho de uma família muito humilde. Nós tínhamos cobertores diretamente sobre a pele… E ali eu tinha lençóis”, começa por explicar.
A Casa de Infância Elísio de Moura, fundada em 1836, teve, desde a sua génese, uma ligação direta à Universidade de Coimbra. A direção da Casa, até hoje, foi sempre assumida por professores desta instituição académica, como Elísio de Moura e Sebastião Cruz, refere a SIC Notícias.
Elísio de Moura, que deu nome à casa, era tratado por “paizinho” pelas alunas ali internadas. Diz-se que naquela casa, se vivia uma realidade paralela: “Quando o paizinho nos visitava, escondíamos, à pressa, as vassouras e os panos de pó. As freiras eram todas sorrisos. Os castigos e os maus-tratos eram interrompidos”, desabafa Olinda ao jornal.
Sebastião Cruz morreu em 1996. Padre e professor catedrático da Universidade de Coimbra, integrou a direção da Casa de Infância até à morte de Elísio de Moura que foi cinco décadas diretor.
“Eu não me confessei mais depois desse episódio e fui fazer a comunhão. E na comunhão, quando o vi a fazer a cerimónia, eu urinei-me toda com medo”, recorda. “O que é que pode ter provocado tanto medo a uma criança?… O que é que a minha cabeça guardou aqui dentro? O que é que a minha cabeça não quer que eu sinta outra vez?”, questiona.
A mesma instituição já esteve no centro de uma reportagem da RTP.
“As Pupilas” é uma grande reportagem da SIC que contará com um segundo episódio transmitido a 3 de outubro.
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