Não demorou mais de um par de horas: mal se tornaram inevitáveis as eleições legislativas antecipadas, logo as redes sociais se encheram de bots capazes de disparar rajadas de mentiras e insinuações contra os adversários políticos dos seus (evidentes) clientes.
Bots e perfis falsos são hoje parte indispensável do arsenal de qualquer estratega de campanha. Operam de forma incansável, sem exigências de ordenado, subsídios de férias ou tolerância de ponto. Mais fiáveis do que os melhores assessores e mais devotos do que os mais fanáticos militantes, estes exércitos digitais dominam a arte de transformar irrelevâncias em matérias de regime. Desde que seja eficaz, pouco importa se o eleitorado é genuinamente convencido ou apenas bombardeado até à exaustão.
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E nesta matéria, eficácia é coisa que não é estranha a Coimbra… Relembre-se que, nas últimas autárquicas, José Manuel Silva viu o nome envolvido numa polémica sobre a alegada contratação de serviços de perfis falsos. O caso gerou burburinho e os rivais apontaram o dedo e inflamaram a retórica, enquanto que a sua falange aceitou como bom o desmentido, mas essas tricas tornam-se irrelevantes se invocarmos o orgulho coimbrão para afirmar agora mesmo a capacidade da Cidade em estar na vanguarda!
Alias, há sempre espaço para revisitar o passado e encontrar em Coimbra outras estratégias que possam inspirar o marketing político a nível nacional, quiçá internacional…
Por exemplo, do lado da outra grande candidatura à liderança da Câmara Municipal na segunda metade do ano, podemos recordar que Ana Abrunhosa chegou a ser acusada de difamação pelo seu antecessor na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), através de um alegado esquema de cartas anónimas. E se o tribunal deliberou pela absolvição, será isso motivo suficiente para desvalorizar a estratégia? Alias, nestes tempos em que já se percebeu que o Ministério Público não consegue resistir à tentação de interferir no calendário eleitoral, podemos concluir que um timing certeiro e uma acusação bem lançada são as únicas coisas que separam Coimbra de se tornar incontornável em todos os livros de estratégia política que se escreverão no futuro!
Claro está que este é um mero exercício de imaginação, uma especulação desinteressada sobre o futuro do marketing político em Coimbra, esse território onde a inovação se manifesta nas formas mais inesperadas.
Mas porque não sonhar que Coimbra se tornará o epicentro de um laboratório eleitoral sem precedentes, uma espécie de nova incubadora jamais vista! Bots, campanhas subterrâneas, manobras judiciais – tudo misturado num caldeirão fervilhante. Uma cidade que gosta de se dizer à frente do seu tempo não pode perder esta oportunidade de marcar a vida nacional. É agora ou nunca!
OPINIÃO | PEDRO SANTOS – ESPECIALISTA EM COMUNICAÇÃO
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