Coimbra

Coimbra: Extrema-Direita pôs garras de fora há 50 anos

Notícias de Coimbra | 5 anos atrás em 09-05-2020

 

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Completam-se, hoje, 50 anos sobre a reacção da extrema-Direita às vitórias da Esquerda nas eleições de 1969 e 1970 para os órgãos sociais da Associação Académica de Coimbra (AAC).

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Tal reacção ficou associada a escaramuças, na praça da República, entre a Polícia e estudantes, sendo que um sofreu ferimentos graves.

O investigador universitário Riccardo Marchi inscreve o recrudescimento da intolerância da extrema-Direita na actividade da Oficina de Teatro da Universidade de Coimbra (OTUC), que, segundo ele, passou a pautar-se por “constante provocação ao movimento estudantil, a ponto de gerar violentos confrontos entre estudantes esquerdistas e forças da ordem”.

O episódio de violência, por ocasião da subida à cena no Teatro de Gil Vicente da peça “O livro de Cristóvão Colombo” (de Paul Claudel), não foi alheio à escassez da duração do mandato do reitor José Gouveia Monteiro.

O professor universitário e médico, que não era afecto ao regime de Marcelo Caetano (deposto a 25 de Abril de 1974), esteve apenas 20 meses à frente da Reitoria da UC (do começo de 1970 ao Outono de 1971).

A representação da sobredita peça acabou por ser viabilizada poucas semanas depois de o reitor ter negado à OTUC (conotada com a extrema-Direita) autorização para o efeito. Em Abril de 1970, a Direcção da AAC, presidida por António Pires Remédios, decidira fechar a sede da Oficina de Teatro da Universidade de Coimbra.

De acordo com Riccardo Marchi, “após (…) conversações, a OTUC conseguiu autorização para exibir a peça no Teatro Académico de Gil Vicente, ficando a entrada no TAGV limitada a um público predeterminado para evitar as contestações já organizadas pelas esquerdas”.

Segundo o investigador universitário, na noite da representação, cerca de 300 “activistas antifascistas” contestaram duramente os convidados da Oficina de Teatro e houve escaramuças com a Polícia.

Os referidos activistas ameaçaram tomar de assalto o TAGV caso o reitor não ordenasse a interrupção do espectáculo, coisa que Gouveia Monteiro acabou por fazer. Os estudantes nacionalistas encararam a atitude do reitor como sintoma de fraqueza da classe política marcelista.

Marchi narra que, “chefiados por José Miguel Júdice, os nacionalistas radicais recusaram-se a abandonar o TAGV e responderam às ameaças de intervenção da Polícia, proferidas pelo reitor, entoando o Hino Nacional”.

Para José Veiga Simão – que foi ministro da Educação do outrora chefe de Governo Marcelo Caetano e membro de executivos de Mário Soares e António Guterres – Gouveia Monteiro entendeu dever governar a UC ao abrigo do “espírito de Coimbra”, pautado pela tolerância e pelo humanismo.

Segundo Jorge Gouveia Monteiro, filho do antigo reitor, ele fez saber que demitir-se-ia de imediato caso fosse censurado o discurso do acto de posse.

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