Opinião

Coimbra é uma naçom!

OPINIÃO | PEDRO SANTOS | 2 meses atrás em 14-07-2024

Foi um dos assuntos dominantes do verão futebolístico: o conimbricense Vítor Bruno substituiu o também conimbricense Sérgio Conceição no lugar de treinador do Futebol Clube do Porto. Não sei se em alguma outra grande instituição portuguesa já aconteceu algo semelhante, mas dado o número de figuras da Cidade que parecem esquecer a sua origem assim que alcançam alguma posição de notoriedade, também não se torna fácil ter essa informação.

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Claro que existe aqui há uma nuance interessante que, no meio de tanta cobertura mediática e análise de comentadores, não chegou a ser devidamente ponderada, mas é para isso que aqui estou. É que, bem mais interessante do que a substituição do técnico de Coimbra por outro técnico de Coimbra, tivemos o puto da Ribeira de Frades a ser afastado para dar lugar ao miúdo da Solum. Se isto não é uma metáfora…

É que nem faltam os contornos que remetem para os estereótipos sobre quem habita o espaço urbano e quem vive em ambiente suburbano (sub, está-se mesmo a ver, não é?)… Afinal, não falta quem caracterize Sérgio Conceição como intempestivo e pouco polido, olhando para a chegada do calmo e educado Vítor Bruno como uma lufada de ar fresco. Numa cidade de doutores, onde ainda hoje se fala da periferia como quem cita uma obra de Alves Redol mas com menos respeito pelas personagens, parece tudo bater certo.

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Onde não existe comparação possível entre o episódio da troca de treinador no Dragão e o quotidiano da nossa Cidade é no papel que Conceição e Bruno desempenharam durante anos, com o segundo numa posição de subalternidade para o primeiro, mas com relatos de uma relação de verdadeira parceria entre ambos, sendo a voz do adjunto altamente considerada pelo líder. Já a voz da Ribeira nem sequer chega à Solum, ou dito de outra forma, as vozes de Assafarge, Brasfemes, Trouxemil ou São João do Campo não chegam verdadeiramente às Praças 8 de Maio, D. Dinis ou da República.

Em Coimbra, o desenvolvimento e os poucos assomos de algo que se assemelhe a uma estratégia nunca envolvem os territórios suburbanos, que ficam com pouco mais do que os apoios a festas e uma ou outra camada de alcatrão atirada para cima de uma qualquer rua esburacada.

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Sucedem-se os políticos e as políticas e tudo fica na mesma, com mais ou menos folclore. Coimbra, a cidade, gosta de ir dançar ao som de música popular no baile da aldeia, mas não quer misturas que vão além disso.

Discussão que anda na ordem do dia e onde esta postura é evidente é a do estacionamento automóvel na malha urbana e os consequentes apelos à utilização do transporte público. A ideia parece boa, mas é mais fácil de defender por quem olha para os problemas a partir da Solum (ou dos Paços do Município) do que por quem o faz da Ribeira de Frades. Afinal, na véspera de um treino, por exemplo, Vítor Bruno não teria problemas em ir até Coimbra B para apanhar o comboio para o Porto, mas Sérgio Conceição teria de olhar com muita atenção para os horários dos autocarros de forma a evitar os longos períodos durante o dia em que eles nem se aproximam da sua aldeia.

Se calhar, é por isso que ele parece andar sempre irritado…

OPINIÃO I PEDRO SANTOS – ESPECIALISTA EM COMUNICAÇÃO

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