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Coimbra acolhe artistas de cinco países para “dar a ouvir” o som de todas as coisas

Notícias de Coimbra | 2 meses atrás em 14-07-2024

Entre 18 de julho e 1 de setembro, o “Dar a Ouvir” renova o convite à escuta atenta do mundo, através de um programa artístico que, em 2024, acolhe artistas de várias proveniências geográficas – Brasil, Eslovénia, Espanha, Portugal e Suécia – mas cujos trabalhos confluem no vasto domínio de investigação artística e académica em torno do som. Gil Delindro traz exposição “A Natureza não reza” a Coimbra.

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Esta edição do projeto coorganizado pelo Serviço Educativo do Jazz ao Centro e pelo Convento São Francisco / Câmara Municipal de Coimbra contempla concertos, conversas, exposições, oficinas e performances sonoras que vão decorrer em vários espaços do Convento São Francisco e no Salão Brazil, unindo as duas margens através da ponte entre dois dos principais espaços culturais do Centro Histórico de Coimbra.

O “Dar a ouvir” procura aprofundar algumas das questões já presentes nas anteriores edições, nomeadamente através de um renovado interesse na escuta do não-humano. A paisagem sonora da cidade continua a ter um carácter central e fundacional, mas as representações sónicas dos ambientes urbanos e as comunidades humanas passam a partilhar o lugar de escuta com todas as outras coisas que compõem o mundo.

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É precisamente esse o foco de um dos trabalhos que merece destaque na presente edição do “Dar a Ouvir”. “A Natureza não reza” é a primeira grande exposição individual em Coimbra do artista Gil Delindro, nascido no Porto e premiado internacionalmente pelas suas instalações e esculturas, onde mistura elementos orgânicos e captações sonoras provenientes de paisagens adversas.

Para Delindro, “dizer que a Natureza não reza, é acolher essa comunicação não-humana e dar-lhe um lugar de afeto, importância e reflexão. Em suma, trata-se de aceitar a nossa posição de vulnerabilidade, ao atribuirmos importância a algo que não pode ser totalmente compreendido através de conceitos verbais, sejam estes filosóficos, religiosos ou científicos”.

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Abarcando vários trabalhos, já apresentados isoladamente em lugares como a Fundação de Serralves, o Festival Lisboa Soa e museus e festivais internacionais de referência, o carácter único desta exposição de Delindro, torna-a um dos motivos mais fortes para visitar o Convento São Francisco durante o período em que estará patente, de 18 de julho a 1 de setembro.

“Se o não-humano, tal como o subalterno, pode falar, como o escutamos?” A pergunta a que Gil Delindro tenta responder guia igualmente o trabalho da artista sonora eslovena Petra Kapš, que vai apresentar no Dar a Ouvir o resultado da residência artística que fará na Aldeia do Xisto da Cerdeira, na Serra da Lousã.

Petra Kapš especializou-se no campo da geo-acústica, tendo um importante corpo de trabalho na confluência entre a arte sonora, a poesia, a performance e a arte radiofónica, desenvolvendo em vários contextos arquivos sonoros topográficos, intervenções no espaço público e explorações da memória através do som e da perceção.

A presença da artista eslovena é resultado de uma parceria que o Serviço Educativo do Jazz ao Centro mantém com a Associazione Culturale Interzona, uma organização italiana que organiza o Festival Liminaria, que possui muitas linhas em comum com o Dar a Ouvir. Assinalando a colaboração, Leandro Pisano, Presidente da associação, estará também presente e participará de uma roda de conversa em que explicará, enquanto curador, como se desenvolveu o trabalho de Petra Kapš no Vesúvio, precisamente antes da sua residência na Cerdeira.

Nesta edição, o Dar a Ouvir inaugura, também, uma outra parceria internacional, desta feita com a Fundación Cerezales Antonino y Cinia, instituição cultural espanhola sediada em Cerezales Del Condado, uma pequena localidade a poucos quilómetros de Léon (Espanha). Sob proposta de Luis Martinez Campo, curador da Área de Som e Escuta da Fundación Cerezales Antonino y Cinia, o Dar a Ouvir acolherá uma residência artística da dupla Raquel G. Ibáñez e Ignacio Martínez, que apresentarão uma iteração da sua recente criação “Invoca Vento”, estreada recentemente em Cerezales Del Condado.

O MS02 (Mobiliário Sonoro) volta a ser disponibilizado ao público, contendo sons da cidade prontos a saltar das suas gavetas. MS02 (Mobiliário Sonoro 02) é uma instalação interativa destinada à descoberta e interpretação de sons pertencentes ao Arquivo Sonoro do Centro Histórico de Coimbra (ASCHC), uma coleção de paisagens e marcos sonoros recolhidos pelo Jazz ao Centro Clube sob a direção artística de Luís Antero. Apresentado sob a forma de um armário e elemento pertencente a uma coleção de mobiliário-objetos sonoros desenvolvidos em torno do ASCHC, o MS02, a partir dos atos de abrir e fechar gavetas, propicia a exploração artística, lúdica e educativa do arquivo.

Num registo diferente, o Dar a Ouvir acolhe os concertos dos brasileiros Mbé & Lcuas e Cinemascope, do trio sueco liderado por Nils Berg, com Josef Kallerdahl e Konrad Agnas. Enquanto que Mbé e Lcuas apresentam “Mimosa”, um projeto de antropologia e arqueologia musical que resgata a sonoridade e o movimento dos corpos negros brasileiros, seus ritmos e linguagens múltiplas. O Cinemascope de Nils Berg apresenta o cine-concerto Basilicata Dreaming, resultado da viagem que Nils Berg e o videasta Donovan von Martens fizeram a Basilicata, onde os artistas tocam ao vivo e interagem com as imagens projetadas.

O Dar a Ouvir será também casa para os “Mil Pássaros”, um projeto da Companhia de Música Teatral, com a colaboração de educadoras, auxiliares de educação e as crianças de 48 salas de Jardins de Infância do Município de Coimbra. Integrou ações de formação dirigidas às educadoras e celebrou o mundo dos pássaros promovendo e acolhendo atividades nos Jardins de Infância como a Oficina dos Pássaros ou PaPI – Opus 8, uma peça de música teatral

A instalação “Mil Pássaros” é o resultado de um processo de partilha que fez nascer pássaros na ponta dos dedos que depois se juntaram em “murmuração” visual e sonora afinada pelo desejo dum mundo melhor. Estes pássaros de papel, ou orizuros, realizados de acordo com a arte do origami são, segundo a tradição japonesa, símbolo de paz e felicidade. E, diz-se, os desejos cumprem-se quando se fazem mil orizuros.

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