Portugal

Ciclistas defendem mais restrições ao automóvel e planos de mobilidade mais articulados

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 anos atrás em 07-09-2022

Associações representativas de praticantes de bicicleta defendem medidas que restrinjam mais o uso do automóvel dentro das cidades e que garantam a segurança dos ciclistas, considerando que os planos de mobilidade sustentável “estão muito desarticulados”.

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Em vésperas de se realizar no Porto o congresso Cidades que Caminham (quinta e sexta-feira) e a poucos dias de se assinalar a Semana Europeia da Mobilidade (16 a 22 de setembro), a agência Lusa questionou a Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta (MUBi) e a Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta (FPCUB) sobre a evolução nas políticas de mobilidade sustentável.

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O presidente da MUBi, Rui Igreja, considerou que, apesar dos avanços verificados nos últimos anos, a principal condicionante à utilização de bicicleta nas cidades portuguesas é a “falta de segurança” devido à “utilização excessiva do automóvel”.

“É preciso que haja uma grande transformação, tornando as cidades e os espaços urbanos muito mais seguros para andar de bicicleta e também para andar a pé. A falta de segurança rodoviária acaba por ser o principal obstáculo a quem quer andar de bicicleta ou andar a pé”, apontou.

Nesse sentido, para o dirigente da MUBi, o caminho “terá de passar por decisões políticas assertivas, que retirem privilégios e espaço ao automóvel” e “privilegiem meios de transporte mais sustentáveis” como é o caso da bicicleta.

“Os planos não devem ser uma resma de papel, mas algo contínuo no tempo. Ou seja, têm de ser implementados e seguir um ciclo de aprendizagem, de melhoria e de envolvimento das pessoas, quer no seu desenvolvimento, quer na sua implementação”, defendeu.

A visão é partilhada pelo presidente da FPCUB, que, mais do que “meras intenções”, entende ser necessária a “implementação de medidas concretas” para incentivar as pessoas a utilizar mais a bicicleta, em detrimento do carro, dando o exemplo do que é feito na cidade espanhola de Pontevedra, na comunidade autónoma da Galiza.

“A maioria dos planos não estão articulados. Ou por inveja, ou por má relação com os vizinhos. Às vezes as autarquias estão a fazer coisas que nem sabem bem o que é. Por exemplo, em Pontevedra os velhotes podem ir às compras de bicicleta. Eles abrem pequenas superfícies dentro da cidade e eles fazem o trajeto todo em 20 minutos. As crianças também podem brincar na rua, pois a velocidade dos carros é baixa”, apontou José Caetano.

O dirigente referiu que em Portugal “a pandemia trouxe as pessoas para a rua para correr e andar de bicicleta”, mas “isso não significa que se está perto da mobilidade que se pretende para fazer face às alterações climáticas”.

“Toda a gente faz congressos [sobre mobilidade], mas eu quero é saber se aumentam ou não os utilizadores de bicicletas. Fazer congressos é muito diferente do que pôr as pessoas na rua a utilizarem a bicicleta para ir para o trabalho. Portanto, ao nível do país isto tem-se desenvolvido muito, mas para o lazer e fim de semana”, criticou.

Questionado sobre o papel que as trotinetes assumem na mobilidade urbana sustentável, José Caetano criticou a forma como este veículo tem convivido com as bicicletas: “Há pessoas nas trotinetes que andam a 70 quilómetros/hora. Eu tenho mais medo das pessoas que andam nas ciclovias de trotinete do que dos carros que circulam na via pública”.

Opinião contrastante assume Rui Igreja, da MUBi, que considera que o principal “inimigo” é mesmo o automóvel.

“ O elefante na sala não são as trotinetes. São os carros. Saiu há pouco tempo um estudo em Portugal em que tínhamos uma média de 12 acidentes com trotinetes por mês e nenhum deles é grave”, argumentou.

Como ponto positivo, as duas associações destacam os apoios que estão a ser dados pelo Governo para a aquisição de bicicletas e elogiam as redes de bicicletas partilhadas, defendendo, contudo, que devem ser alargadas.

“Em Portugal a maior rede de bicicletas partilhadas é de longe a Gira em Lisboa, tendo a utilização de bicicleta em Lisboa aumentado bastante. É preciso que em Lisboa a Gira chegue a novos locais, pois existem ainda espaços vazios, como no Parque das Nações e no centro da cidade. Mas, por exemplo, é difícil compreender que no Porto ainda não exista um sistema público de bicicletas partilhadas”, apontou Rui Igreja.

Já o dirigente da FPCUB defendeu que uma das medidas que irão ajudar a aumentar o número de ciclistas é a inclusão das bicicletas partilhadas no passe Navegante, enaltecendo, contudo, o trabalho levado a cabo em Lisboa pela Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento (EMEL), responsável pela implementação da Gira.

“Os sistemas de bicicletas partilhadas, quando bem dimensionados e instalados, podem ajudar a impulsionar a utilização da bicicleta em cerca de 3%”, argumentou.

Ainda neste âmbito, o presidente da MUBi ressalvou que a bicicleta terá um grande potencial de utilização se for combinada com os transportes públicos, instando as entidades públicas a melhorar essa interligação.

“É preciso que as Câmara Municipais e o próprio Governo apostem em tornar mais cómoda esta combinação. Ainda é difícil uma pessoa combinar a bicicleta com o transporte público, quando devia ser muito mais fácil”, sublinhou.

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