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Chuva volta a levar a casa de Elisa no centro de Moçambique
Três anos após o ciclone Idai, Elisa Ernesto volta a passar por momentos de angústia ao ver as águas tomarem a sua casa, de construção precária, em Ndunda, arredores da cidade da Beira, centro de Moçambique.
“Precisamos de ajuda do Governo”, diz à Lusa, enquanto descreve aquilo por que passou entre sexta-feira e sábado, sob a chuva torrencial provocada por uma depressão que sucedeu ao ciclone Gombe.
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Choveu tanto como num mês, segundo relatos da população e autoridades locais.
“Havia correntes fortes e dentro da casa estava tudo cheio de água: não havia como ficar ali. Os secretários [de bairro] passaram pelas casas a pedir que fossemos para as escolas”, encontrar abrigo, mas “não dispõem de condições para sobrevivermos”, relata.
Ainda assim, as escolas são o único porto de abrigo e o local para onde Elisa leva dois bidões de 20 litros, cheios de água, para as necessidade do dia, com semblante carregado e a esconder a fome.
A comida que tinha guardada em casa ou foi levada pela água ou ficou imprópria para consumo.
“Aí em Ndunda II entregamos tudo nas mãos do Governo, porque as nossas ideias estão a acabar: construímos casa, vem água, destrói tudo e passamos mal novamente”, conta Sara Paulo, que viveu noites em branco, por cima de tijolos, juntamente com crianças, enquanto esperava que a fúria das águas passasse.
Sara Paulo conheceu todos os ciclones recentes, porque todos lhe levaram alguma coisa: Idai em 2019, Chalane em 2020 e Eloise em 2021.
“Já pedimos uma ponte lá para a zona, para nos sentirmos seguros nos momentos de inundações”, acrescenta Anita Monteiro, 60 anos, anciã do bairro, que conta que a sua casa mais parecia ter-se transformado numa ilha.
No sábado e domingo, as autoridades tiveram de recorrer a pequenas embarcações para resgatar alguns residentes, como ela.
Aristides Armando, delegado do Instituto Nacional de Gestão de Desastres (INGD) na província de Sofala, disse à Lusa que há 22 mil famílias afetadas pelas inundações naquela zona da província de Sofala.
Há 1.349 casas totalmente destruídas, para além de outras 3.096 inundadas.
“Estamos a gerir a situação” com três centros de acomodação e “as águas a recuar em quase todos os bairros da cidade”, acrescenta.
Segundo explica, há zonas da província que estão a receber os caudais em alta dos rios Búzi e Metuchira, resultantes de descargas de barragens de Mavuzi e Chicamba.
As regiões norte e centro de Moçambique estiveram entre 11 e 19 de março sob chuvas intensas causadas pelo ciclone Gombe e pela depressão tropical que lhe sucedeu.
A intempérie provocou pelo menos 59 mortes e 82 feridos (o levantamento ainda decorre), sobretudo nas províncias da Zambézia e Nampula, a norte, em muitos casos devido ao desabamento de casas construídas com material tradicional (argila e caniço).
Moçambique enfrenta anualmente várias tempestades durante a época ciclónica e chuvosa, que decorre entre outubro e abril.
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