Opinião
Do Choupal até Penamacor
É-me difícil comparar com outras cidades, mas sei que a autoestima coletiva coimbrã oscila frequente e rapidamente entre picos mínimos e máximos, parecendo quase sempre não conhecer meio-termo. Um fator determinante para esses extremos é a opinião de quem aqui não vive, mas o que poderia ser uma estratégia interessante – valorizar perspetivas periféricas, não influenciáveis pelos pecadilhos da proximidade, como as cumplicidades, as interdependências ou as inimizades – não passa de narcisismo: os pontos de vista externos são invariavelmente considerados ou desconsiderados de acordo exclusivamente com a sua consonância com a posição pessoal de quem os avalia.
Por isso, foi sem surpresa que, recentemente, se viu Coimbra embarcar num entusiasmo quase pueril com a inclusão numa lista de destinos a visitar em 2025 publicada pelo jornal norte-americano The New York Times. A ‘proeza’ (aspas minhas) foi de tal ordem, que foi até destacada pela generalidade da imprensa – imaginando-se, neste caso, a surpresa que terá causado em Lisboa o facto de a cidade que viu fechar, nos últimos anos, delegações de quase todos os órgãos de comunicação social de âmbito nacional, afinal, ainda existir!
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Tal entusiasmo, note-se, não foi todo de alegria. Afinal, se há uma parte da cidade (nomeadamente, da cidade político-partidária) a quem interessa enaltecer tal ‘distinção’ (de novo, aspas minhas), há outra que aposta todas as fichas em menorizá-la. A isso obriga a proximidade das eleições autárquicas…
Pessoalmente, gostava de ter visto uma maior capacidade crítica de um lado e do outro. Porque se estar neste tipo de listas é melhor do que estar fora – e tal parece-me indiscutível, tendo em conta a audiência do jornal em causa e a importância do turismo para a economia nacional – é importante não perder a capacidade analítica, sobretudo porque as listagens e os artigos noticiosos passam, mas nós aqui ficaremos, a viver e a fazer viver Coimbra…
Essa é a razão que torna difícil que me anime com o artigo em causa. Porque, por exemplo, a Coimbra em que continuarei a viver deixou encerrar o espaço onde me é recomendado fazer uma refeição vegetariana e uma tatuagem, está a 70 quilómetros do museu que me é sugerido visitar e a mais de duas horas de distância do banho de floresta que me é aconselhado (e que até me parece uma ideia incrível, fosse possível no Choupal que o jornalista ignora).
A inclusão de Coimbra nesta lista do The New York Times é, em boa parte, uma ficção em que não nos podemos dar ao luxo de acreditar cegamente. Sob pena de continuarmos a ser uma Coimbra que só existe para quem (eventualmente…) nos visita.
OPINIÃO | PEDRO SANTOS – ESPECIALISTA EM COMUNICAÇÃO
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