Portugal

Chamam-lhe a “Menina Milagre”. Marta vive com duas balas na cabeça, sobreviveu ao impossível e ainda sonha

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 3 horas atrás em 25-04-2025

Imagem: Facebook

Dez anos depois do ataque que quase lhe tirou a vida, Marta Nogueira, hoje com 31 anos, continua a ser um exemplo de resistência.

Aos 21, foi baleada na cabeça por um ex-namorado violento, que também assassinou a prima Joana, quando esta tentava protegê-la. Sobreviveu contra todas as probabilidades, mas as marcas da tragédia acompanham-na todos os dias: duas balas continuam alojadas no cérebro e uma longa lista de dificuldades físicas e neurológicas fazem parte da sua rotina.

Apesar das mais de 30 cirurgias, da reabilitação constante e das terapias essenciais para manter algum grau de autonomia, a indemnização de mais de meio milhão de euros atribuída pelo tribunal nunca foi paga pelo agressor. O Estado avançou apenas com 34.680 euros, o valor máximo previsto por lei — uma gota no oceano nas despesas da família, como se lê no Jornal de Notícias.

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Com poucos recursos e dedicados em exclusivo ao cuidado da filha, os pais de Marta já gastaram mais de 200 mil euros para garantir o mínimo de qualidade de vida. Enquanto a mãe, Maria da Luz, permanece dia e noite ao lado da jovem, o pai, João Nogueira, continua a trabalhar sem descanso, poupando cêntimo a cêntimo para manter os tratamentos que Marta não pode suspender.

A recuperação surpreendeu a medicina. Após um início devastador, sem falar, sem andar e sem se alimentar sozinha, Marta voltou a comunicar, caminha com o auxílio de um andarilho e é capaz de compreender tudo à sua volta. O progresso começou com sessões de fisioterapia recomendadas por outra mãe no Centro de Reabilitação do Norte e um terapeuta cubano na Maia fez o resto. A primeira sessão foi suficiente para provocar um milagre: pela primeira vez, Marta conseguiu virar-se na cama.

Com força de vontade e ajuda de muitos, a jovem decidiu retribuir. Escreveu um livro para angariar fundos para a sua própria fisioterapia e já planeia o próximo. Recolhe donativos através de MB Way (936 422 515) e NIB (PT50 0045 2140 4025 2364 9498 5), e mantém uma presença ativa nas redes sociais, onde partilha os seus passos literais e figurativos.

O agressor, Manuel Monteiro, foi condenado a 25 anos de prisão. Juntou 12 mil euros enquanto cumpre pena, mas nenhuma lei obriga à entrega desse valor às vítimas. A Comissão de Proteção às Vítimas de Crimes pagou o valor permitido pela legislação, mas considera que cumpriu o seu papel. A família de Joana, que morreu sem deixar descendência, não teve direito a qualquer apoio.

Hoje, Marta não se recorda do ataque, nem do autor. A ausência de memórias protege-a do horror vivido naquela manhã de abril de 2015, numa pastelaria no Pinhão. Mas a luta diária, essa, continua viva — alimentada pela esperança, pelo amor dos pais e pela coragem inabalável da “menina milagre”.

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