Universidade
Centro de Estudos Sociais vence 2 bolsas no valor de 4 milhões de euros
Duas bolsas Consolidator Grant do Conselho Europeu de Investigação (ERC), no valor aproximado de 2 milhões de euros cada, foram atribuídas a dois projetos de investigação do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra coordenados, respetivamente, por Margarida Calafate Ribeiro e Helena Machado.
Assim, Margarida Calafate Ribeiro coordena a equipa que desenvolverá o projeto «MEMOIRS – Os Filhos dos Impérios e Pós-Memórias Europeias», que procurará oferecer uma visão radical, alternativa e inovadora da história europeia contemporânea, baseando-se nas heranças coloniais, que caraterizam as sociedades europeias. Este projeto considera que a experiência colonial é uma característica definidora de várias identidades nacionais europeias e procura questionar a sua incorporação em diferentes narrativas nacionais através de processos de memórias herdadas.
O seu principal objetivo é mostrar como os processos de descolonização afetaram e continuam a afetar a Europa como um aglomerado de antigos poderes coloniais através das memórias que são transferidas, quer pelos “colonizadores” quer pelos “colonizados”, para as gerações seguintes. A estrutura multicultural das sociedades europeias contemporâneas é assim questionada como um resíduo da descolonização, o que só pode ser compreendido através de uma leitura cientificamente informada e politicamente pós-colonial. Com duração de cinco anos, será financiado em 1.982.475 euros.
Quanto a Helena Machado, liderará o projeto «EXCHANGE – Geneticistas forenses e a partilha transnacional de informação genética na União Europeia: relações entre ciência e controlo social, cidadania e democracia», cujo objetivo é estudar o papel da genética forense e das tecnologias de ADN na investigação criminal no contexto de políticas de vigilância e segurança pública na União Europeia. EXCHANGE irá focar-se nas práticas de cientistas forenses envolvidos no Tratado de Prüm (também conhecido por Schengen III), que criou, na União Europeia, um sistema de partilha de informação genética, automatizada, entre países, com o propósito de combater a criminalidade organizada, o terrorismo e a imigração ilegal. Com duração de cinco anos, será financiado em 1.838.150 euros.
Conseguidos nos concursos mais competitivos da Europa, este é já o quarto financiamento do ERC que o CES obtém, num total de quase 8 milhões de euros. Depois da Advanced Grant atribuída ao sociólogo Boaventura de Sousa Santos (2010), diretor do CES, no valor de 2,4 milhões de euros, para o projeto de investigação “ALICE – Espelhos estranhos, lições imprevistas: definindo para a Europa um novo modo de partilhar as experiências do mundo”, e da Starting Grant outorgada à socióloga Ana Cristina Santos (2013), para realizar o projeto de investigação “INTIMATE – Cidadania, Cuidado e Escolha: A Micropolítica da Intimidade na Europa do Sul” (1,4 milhões de euros).
Neste concurso, para Consolidator Grant, o ERC recebeu mais de 2500 candidaturas, com cerca de 10% a conseguirem financiamento. O seu objetivo é o de apoiar os/as investigadores/as numa fase em que estão a consolidar as suas equipas de investigação independentes.
Margarida Calafate Ribeiro é investigadora coordenadora no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e membro do Núcleo de Humanidades, Migrações e Estudos para a Paz (NHUMEP). É docente no programa de doutoramento do CES/III, “Patrimónios de Influência Portuguesa“, de que é coordenadora com Walter Rossa. Com Roberto Vecchi, é responsável pela “Cátedra Eduardo Lourenço” no Instituto Camões/ Universidade de Bolonha.
Doutorada em Estudos Portugueses pelo King’s College, Universidade de Londres, mestre pela Universidade Nova de Lisboa e licenciada pela Universidade de Aveiro.
Das suas publicações destacam-se os livros de autor África no feminino: as mulheres portuguesas e a Guerra Colonial; e Uma história de regressos: império, Guerra Colonial e pós-colonialismo. Organizou ainda os livrosAntologia da memória poética da guerra colonial (com Roberto Vecchi); Literaturas da Guiné-Bissau: cantando os escritos da história (com Odete Costa Semedo); Literaturas insulares: leituras e escritas de Cabo verde e São Tomé e Príncipe (com Sílvio Renato Jorge); Atlantico periferico: il postcolonialismo portoghese e il sistema mondiale (com Roberto Vecchi e Vincenzo Russo);Lendo Angola (com Laura Cavalcante Padilha); Moçambique: das palavras escritas (com Maria Paula Meneses); Fantasmas e fantasias imperiais no imaginário português contemporâneo (com Ana Paula Ferreira).
Helena Machado é Investigadora FCT (Consolidation Grant) do Núcleo de Estudos de Ciência, Economia e Sociedade do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
Os seus interesses de investigação centram-se na sociologia do crime e nos estudos sociais da genética forense. Tem focado as interrelações entre ciência, tecnologia e o sistema de justiça, em particular as questões societais, regulatórias e éticas da aplicação de técnicas de genética molecular na investigação criminal e combate à criminalidade. Helena Machado tem estudado a importância da genética forense nas formas contemporâneas de governabilidade e no contexto de práticas de controlo social e de gestão de populações consideradas “perigosas”. Além disso, tem explorado os impactos da genética forense na construção de identidades individuais e coletivas e em modalidades emergentes de cidadania genética.
Desenvolveu investigação pioneira (com Barbara Prainsack – King’s College London) sobre as perspetivas de reclusos acerca das implicações das tecnologias genéticas na construção do estigma e dos efeitos capacitadores e repressivos da vigilância genética.
Tem publicado em várias revistas nacionais e internacionais sobre tópicos como biocidadania, consentimento informado na doação de material biológico, vigilância genética e narrativas da cultura mediática sobre investigação criminal e ciência forense. Coordenado ainda diversos projetos de investigação científica sobre estes temas, com o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
As bolsas ERC que, com o apoio da UE, financiam a investigação de ponta no espaço europeu, têm sido pouco atribuídas a cientistas em Portugal. É portanto significativa esta dupla atribuição a estudos conduzidos no Centro de Estudos Sociais, representativa da qualidade e inovação de projetos na área dos estudos culturais e dos estudos sociais da genética forense e criminologia.
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