Com apenas 14 anos, Fernando Silva viu o mundo escurecer devido a um tumor na cabeça. Mas decidiu dar luz ao seu talento: primeiro através da música e, mais tarde, com o artesanato.
Sentado num banco, no Mercado do Queijo Rabaçal e dos Romanos, no concelho de Penela, Fernando entrelaça com destreza fios sintéticos nos tampos de pequenas cadeiras, ao mesmo tempo que partilha a sua história com o NDC.
As cadeiras, que exibe com orgulho, ganham vida em tons vibrantes de amarelo, azul e vermelho.
Aprendeu a arte do entrelaçado aos 18 anos, quando também se viu obrigado a dominar o sistema Braille. “Custou-me mais a aprender Braille do que a fazer estes tampos decorativos”, confessa com um sorriso.
PUBLICIDADE
Natural de Viavai, uma pequena localidade a cerca de 10 quilómetros do centro de Penela, o artesão divide o seu tempo entre o artesanato e a música – uma paixão herdada do pai.
“O meu pai trouxe-me uma concertina do Luxemburgo. Não trouxe foi os dedos nem o professor para me ensinar”, recorda, entre risos.
Foi aos 19 anos que começou a tocar concertina de forma mais séria, com a ajuda de um professor que enfrentou o desafio de ensinar música a um invisual. “Ensinar quem vê é fácil. Agora ensinar quem não vê é muito difícil”, afirma.
O percurso não foi simples. “Ninguém aprende nada sozinho, ninguém”, sublinha Fernando, valorizando os mestres que o ajudaram ao longo do caminho.
Hoje, Fernando, com 62 anos, é presença habitual em eventos como a Feira do Mel e a Feira de Artesanato de Santiago da Guarda.
Neste mercado no Rabaçal, cada cadeirinha é vendida a 20 euros, um valor simbólico face ao trabalho envolvido. “Só o carpinteiro leva-me onze euros. Depois, são três horas a entrelaçar a corda”, explica.
Apesar das dificuldades, Fernando não desiste e trabalha “por amor à camisola”. “Quem gosta do que faz, não se cansa”, diz com convicção. O seu desejo para o mercado é simples: “Gostava de ver o meu trabalho a sair mais um bocadinho, porque isto está tudo tão parado que até dá pena.”
PUBLICIDADE